A pirataria verde e os reais líderes

A pirataria verde e os reais líderes

A pirataria verde e os verdadeiros líderes

Por Marilena Lino Almeida Lavorato

Enquanto se faz a “costura política” para aprovação do novo Código Florestal, a lei nacional de resíduos sólidos sai do papel e entra na fase de regulamentação. A portaria 113 do Ministério do Meio Ambiente, publicada no dia 11 de abril, é agora objeto de estudos nos Grupos Setoriais do MDIC, com participação dos entes da sociedade civil organizada. Em seis meses, prazo que pode ser prorrogado por igual período, Governo, representantes da Indústria, Comércio e Serviços definem deveres e responsabilidades no descarte de embalagens e bens não servíveis.

Trata-se de um avanço, sem dúvida. Mas é na regulamentação que surgem os empecilhos mais difíceis à aplicação da lei. Nesse estágio, aparecem os verdadeiros protagonistas do mundo novo, sustentável, e é também aí que aparecem os oportunistas de plantão, prontos a tirar proveito da situação. São as falsas lideranças, os piratas do greenwashing.

Com a nova lei, governantes terão de se comprometer com a coleta seletiva e a construção de aterros, ainda que isso não renda votos. Fabricantes terão de provar que são, de fato, detentores de boas práticas e inovadores a ponto de redesenhar produtos e processo que possam reinserir os resíduos na cadeia produtiva. É hora de conhecer as empresas cidadãs e conferir até que ponto os investimentos na sustentabilidade não são apenas gastos em publicidade!

É agora que começam a despontar as autênticas lideranças, aqueles cuja voz será ouvida em fóruns como os comitês de bacias hidrográficas, as câmaras ambientais, as comissões como a que debate o novo código florestal ou a conferência internacional que trata das mudanças do clima.

Vejo também significativa a contribuição de organismos independentes como o nosso, o Instituto Mais (organização não-governamental sem fins lucrativos, cuja missão é construir uma nova cultura pró-sustentabilidade), que articula pessoas físicas ou jurídicas que fogem do lugar comum quando pensam e praticam sustentabilidade. Lidam bem com o pensamento complexo e a pluralidade. São inovadoras por excelência, éticas e interativas por opção. É uma combinação de competências com resultados efetivos na prática.

Essas lideranças, legítimas e genuínas, provam que é possível conciliar desenvolvimento econômico com harmonia social e ambiental. São pessoas com autoridade suficiente para contrapor as falácias do greenwashing e para compartilhar e interagir com a massa crítica sem alardes, mas com a racionalidade e coerência esperada de um legítimo líder. Sabem que o mercado e sociedade esperam, cobram e premiam aqueles que tomam para si a tarefa de inovar e construir, preferencialmente, juntos e com transparência.

Sim. Mercado e Sociedade são ávidos por inovações tecnológicas ou gerenciais que melhorem o desempenho socioambiental das atividades humanas e a qualidade de vida dos consumidores. Seja pela força da lei, seja pela atitude espontânea de quem já incorporou a cultura e seus valores, a certeza que se tem é que a Era da Sustentabilidade (a exemplo das já vividas anteriormente pela humanidade – Iluminismo, Pós-Modernismo, etc.) chega com força, mudando o modo de vida da sociedade. Os cidadãos deste século se deparam com os desafios da escassez dos recursos naturais e das mudanças do clima, impondo um novo modus operandi que não permite manipulações ou maquiagens, porque não temos outra saída e nem tempo a perder.

A nova onda da sustentabilidade se impõe com a força dos fenômenos naturais, levando de roldão os despreparados e céticos. Assim como a máquina a vapor, a lâmpada elétrica ou o computador, esse tipo de onda, benigna, que vez por outra sacode a Terra, vem empurrar a humanidade uma vez mais para frente. A esta onda, em outras palavras, chamamos Evolução.

Marilena Lino Almeida Lavorato é especialista em Gestão Socioambiental e presidente do Comitê de Sustentabilidade do Instituto Mais.

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