A liderança e a sustentabilidade

A liderança e a sustentabilidade

Por Marcelo Lyra

Acabamos de sair da conclusão da Rio+20, a principal conferência mundial sobre desenvolvimento sustentável depois da Rio 92. Considero que um dos seus principais legados foi o reposicionamento empresarial. As empresas são vistas agora como parte da solução – fato explicitado no acordo político batizado de O Futuro Que Queremos. Já era tempo.

Considero que isso é fruto do amadurecimento das discussões e também de um movimento positivo das empresas. Muitas já entenderam que é frutífero para seus negócios colocar a sustentabilidade no centro da sua estratégia empresarial. Por outro lado, isso coloca uma pressão sobre elas: necessitam, de fato, mudar seus negócios buscando o equilíbrio entre os resultados econômicos, sociais e ambientais.

Essa nova posição traz uma complexidade muito maior para o exercício empresarial, principalmente para seus líderes. Mas não pode ser interpretada como sinônimo de dificuldade. A complexidade é um dado do problema e soluções lindíssimas podem surgir a partir de uma postura positiva dos líderes em relação à capacidade de ação individual e coletiva. Felizmente minha percepção é que cada vez mais líderes empresariais estão alinhados a essa postura mais pró-ativa.  Mas quais são os atributos desses novos líderes?

Gosto muito da abordagem da equipe do MIT (Senge, Ancona, Locke e outros), que fortalece quatro aspectos da liderança neste novo tempo de tantas incertezas e de maior complexidade: dar sentido ao contexto; definir uma visão de futuro; relacionar-se; e promover a mudança com inovação. Aprecio esses quatro aspectos pois eles têm toda relação com a promoção do desenvolvimento sustentável.

A compressão do estado do mundo dá sentido total à necessidade de um novo posicionamento empresarial. Há evidências de todas as fontes de que a situação do planeta é insustentável para nosso (espécie humana) futuro. Há também alguns exemplos de empresas que tomaram a dianteira e apresentam bons resultados. Apesar de correr mais riscos, as pioneiras têm sido mais valorizadas. A comparação entre a carteira do ISE (Índice de Sustentabilidade Empresarial da BM&FBovespa) ou do DJSI (Dow Jones Sustainability Index)  com a carteira que define o índice geral dessas bolsas mostra isso.

Uma visão de futuro empresarial alinhada ao cenário da sustentabilidade aparenta ser uma das chaves de sucesso. Essas empresas líderes em sustentabilidade apresentam melhores resultados. Na Braskem, por exemplo, revisamos nossa visão e decidimos alcançar a “liderança global da química sustentável” até 2020. Isso está, sem dúvida, ajudando a alinhar os esforços das nossas diversas unidades de negócio, visando ao alcance dessa visão.

O relacionamento amplo com as diversas partes interessadas é um dos aspectos mais relevantes da sustentabilidade, tema muito explorado por diversos autores. Em um ambiente de complexidade, é uma petulância imaginar que você sozinho será capaz de coletar as informações necessárias, analisá-las todas, definir uma solução e implementá-las sem ouvir os envolvidos de fora da sua organização. Isso reduz a autonomia, mas ouvir e considerar a experiência e o conhecimento externo levam no mínimo a decisões mais consistentes.

E, finalmente, a inovação é a única forma de atender ao tamanho do nosso desafio. Muitos já fizeram contas e mais contas. Alguns afirmam que precisaríamos reduzir em dez vezes os impactos decorrentes da satisfação das nossas necessidades (fator 10). Outros dizem que precisamos reduzir cinco vezes (fator 5). Qualquer que seja o número, não se trata de uma melhoria incremental. Portanto, precisamos de melhorias revolucionárias, ou seja, inovar.

Mas liderar dessa forma não é uma tarefa fácil. Recente pesquisa conduzida pela Accenture por ocasião do 10º aniversário do programa Pacto Global, da ONU, que visa promover o fortalecimento do papel das empresas na busca do desenvolvimento sustentável, apontou que, apesar de 93% de 766 CEOs de empresas associadas ao programa entenderem que “a sustentabilidade será crítica para o sucesso dos seus negócios”, colocar isso em prática é um grande desafio. Segundo a mesma pesquisa, apenas 59% deles têm conseguido implementar os princípios do desenvolvimento sustentável de maneira ampla nas suas respectivas empresas; e 49% consideram que a complexidade de sua implementação é a principal barreira.

Por esse motivo, a discussão do papel da liderança e da sua relação com os desafios da sustentabilidade ainda merece muita reflexão. Temos muito a aprender uns com os outros.

Marcelo Lyra é vice-presidente de Relações Institucionais e Desenvolvimento Sustentável da Braskem.

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