A Inovação para a Sustentabilidade: Contexto empresarial e fatores-chave
Por Dra. Aileen Ionescu-Somers e Professor Francisco Szekely
Os negócios adentraram um novo mundo – desafiador e cheio de oportunidade para a inovação estratégica; onde a sustentabilidade será um fator-chave destas oportunidades futuras.
Vejamos algumas das tendências que indicam o surgimento deste admirável mundo novo. Há um abismo cada vez maior entre a economia de reposição de peças das nações industrializadas e a economia que está comprando pela primeira vez (o que impulsiona o consumo) em países pobres e emergentes. Há também uma crescente tensão entre economias de material e não material: preços de produção, demanda e commodities estão aumentando, enquanto os custos de bens imateriais, tal como conteúdo multimídia compartilhado, estão caindo.
E há novos mercados surgindo para servir os “menos pobres”, que ganham entre US$ 2 e US$ 10 por dia. Outras tendências importantes incluem as crescentes economias “Sul-Sul”, onde essas emergentes comercializam entre si e com países menos desenvolvidos. Suas inúmeras empresas e marcas também se espalham pelo mundo. Além disso, também estamos vendo o desaparecimento gradual de fronteiras empresariais tradicionais – por exemplo, quando simples donos de casa produzem eletricidade e passam a vendê-la à rede elétrica.
Empresas que desejam lidar com a complexidade dessas mudanças terão que se afastar de abordagens tradicionais. O novo quadro, que já é dominante em algumas das maiores organizações do mundo, é baseado na inovação estratégica para a sustentabilidade orientada para a solução. Isso pode soar exagerado, mas significa, basicamente, encontrar novas maneiras de melhorar o desempenho através da inovação nas três dimensões: ambiental, social e econômica.
A inovação para a sustentabilidade é mais dinâmica do que a inovação em si, pois exige bastante flexibilidade das pessoas para dar conta dos inúmeros fatores chave em jogo. Por exemplo, precisam pensar em longo prazo: basta lembrar a história dos CFCs – considerados uma solução tecnológica altamente inovadora quando introduzida na década de 1920, cientistas descobriram, décadas depois, que prejudicam a camada de ozônio. O problema foi resolvido ao substituí-los por HFCs – que, agora sabemos, são gases de efeito estufa que também têm efeito poderoso sobre o clima terrestre. A empresa do amanhã terá de pensar muito à frente quando tratar de assuntos no curto prazo, e, cada vez mais, soluções futuras terão de sustentar os três pilares do desenvolvimento sustentável: ambiental, social e econômico.
O espectro da inovação para a sustentabilidade
O primeiro tipo de inovação no espectro é caracterizado pela mudança incremental, passo-a-passo. Muitas empresas optam por esta abordagem, principalmente porque são avessas ao risco – principalmente nesses últimos anos de crise.
O segundo: a inovação radical, significa criar novos modelos de negócios, porém dentro de um sistema de negócios tradicional.
A terceira é a mais importante: transformação sistêmica, que reinventa modelos de negócios defeituosos e insustentáveis por sua própria natureza. Pouquíssimas organizações fazem isso hoje, mas podemos ver alguns modelos novos e mais reflexivos surgindo em certos cantos por aí.
Vamos considerar o exemplo da indústria automotiva. De acordo com pesquisas empíricas, realizadas pelo Centro de Pesquisa de Sustentabilidade do IMD em 2001 e 2004, poucas empresas viam a mudança climática como uma questão estratégica, e certamente não como uma questão que orientava a estratégia. Hoje, as regras do jogo mudaram. Por exemplo, vejamos a BMW – líder super-sector no Índice de Sustentabilidade Dow Jones.
Em 2007, ela criou Strategy Number ONE para desenvolver conceitos sustentáveis e visionários ??para a mobilidade, buscando resolver as exigências e desafios urbanos de clientes. A estratégia é um roteiro projetado para ajudar a empresa a crescer e ser rentável. Ela molda o futuro da BMW e introduz novas tecnologias para ajudá-la a atingir sua meta de construir veículos com zero emissão de poluentes e que também diminuem o impacto sobre o meio ambiente ao reduzir o consumo de recursos.
A Toyota, que está na vanguarda da tecnologia de carro híbrido, está um passo adiante: ela está de olho em uma tecnologia da próxima geração que utiliza uma mistura de energia mais diversificada, que também consome menos recursos. O Powertrain Map for Future Mobility (mapa de trem de força para a mobilidade futura – tradução livre) da empresa desenvolve cenários que constroem veículos e misturas de combustível sob medida, para uso em contextos particulares.
A empresa também está se questionando como ela pode promover a introdução de veículos de próxima geração, e a infraestrutura necessária para seu funcionamento eficiente (estações de recarga com painéis solares, por exemplo) e, ao mesmo tempo, incentivar o uso de sistemas de transporte público e compartilhamento de automóveis; e reduzir o congestionamento nas cidades.
Para obter respostas, a Toyota ampliou seu pensamento estratégico para incorporar outras dimensões que afetarão suas inovações: conceitos globais de sucesso e progresso; a “bio-capacidade” (capacidade de uma área para fornecer recursos e absorver resíduos) disponível por pessoa; e a necessidade de países melhorarem o desenvolvimento e/ou/enquanto reduz o impacto ecológico.
Incerteza: uma barreira e uma oportunidade
Três tipos de incerteza podem afetar a evolução da inovação para a sustentabilidade: física/ecológica, política e comportamental. É difícil para qualquer organização saber como será o amanhã, mas, no entanto, elas terão de se tornar cada vez mais adeptas ao desenvolvimento de uma perspectiva de futuro, o que exige novas habilidades dos gerentes. De qualquer forma, as incertezas criam oportunidades, bem como barreiras. Superar as dificuldades para então compreender essas oportunidades e aproveitar ao máximo a inovação para a sustentabilidade exige que as organizações tomem três atitudes.
Primeiro, calcule o verdadeiro custo da inovação para a sustentabilidade. Por exemplo, o cálculo dos custos e os benefícios do aumento da capacidade de energia renovável devem abranger elementos como o subsídio contínuo de combustíveis fósseis e os diversos impactos negativos das mudanças climáticas e da poluição.
Em seguida, substitua o pensamento antigo. Metas e estruturas em curto prazo na política e nos negócios devem ser substituídas pelo pensamento flexível em longo prazo. Este, por sua vez, pode fazer com que as organizações parem de tomar decisões de forma negativa e reacionária, passando a abordar as questões de uma maneira positiva e proativa, permitindo-lhes a focar e aproveitar as oportunidades à mão.
Por fim, aproxime cada vez mais as partes interessadas do negócio, pois isso ajudará a garantir o sucesso da inovação para a sustentabilidade. A conclusão é que as pessoas mais afetadas também têm que opinar na gestão, tanto de seu ambiente imediato, quanto dos bens comuns globais.
Nos últimos anos, gerentes têm abordado de forma diferente a inovação estratégica para a sustentabilidade. Não é mais um nicho do negócio, mas um conceito que está se popularizando. Os maiores inovadores, como a IBM, 3M e DuPont de Nemours, dizem que veem a sustentabilidade empurrando pra frente a estratégia principal do negócio, e que o contrário realmente não é mais o melhor caminho a trilhar.
Os gestores podem ter uma série de abordagens para incentivar a inovação para a sustentabilidade dentro de suas organizações. O ponto de partida é que ela seja considerada uma oportunidade, não uma ameaça, e que as pessoas percebam que ideias impactantes são necessárias para mudar as mentalidades dos clientes. É igualmente indispensável que as organizações tenham os incentivos certos (fiscal, regulamentar e legal) para promover uma visão de longo prazo que apoie a sustentabilidade.As empresas que já estão implementando a inovação estratégica para a sustentabilidade nos relatam que há uma série de elementos que podem ajudar a melhorar esta área.
1. Valorize o papel da liderança, junto com prioridades claras e uma estratégia corporativa alinhada;
2. Certifique-se que o caso de negócio para a inovação é apoiado por uma análise detalhada e um planejamento de possíveis cenários;
3. Foque nas necessidades do cliente, aproveite da tecnologia aplicada e compartilhe conhecimento através de uma abordagem transparente para pesquisar e desenvolver dentro da empresa;
4. Certifique-se que a estratégia e o desempenho da sustentabilidade estão incorporados nos principais processos da empresa, onde possam impulsionar a mudança, e não ser apenas algo aglomerado;
5. Engaje os funcionários através de uma estratégia clara, treinamento em toda a empresa e uma comunicação eficaz das melhores práticas;
6. Apoie o desenvolvimento e a implementação da estratégia ao incentivar uma cultura empresarial inovadora e interativa.
LEIA TAMBÉM:
A Inovação para a Sustentabilidade II: Os desafios da implementação
A Inovação para a Sustentabilidade III: Sistemas e liderança
A Ideia Sustentável constrói respostas técnicas eficientes e oferece soluções com a melhor relação de custo-benefício do mercado, baseadas em 25 anos de experiência em Sustentabilidade e ESG.