Vinte coisas que aprendi em 20 anos

Vinte coisas que aprendi em 20 anos

Em 2013, Ideia Sustentvel comemora 20 anos. Muito bem vividos. E, principalmente, muito bem aprendidos.

Nessas duas dcadas, a saudvel tarefa de reinventar-se quatro vezes, com quatro mudanas de linha de ao (Gesto de Terceiro Setor, Investimento Social Privado, Responsabilidade Social e Sustentabilidade Empresarial), mantendo sempre a comunicao como ponto de partida, a consultoria estratgica como servio, e a educao/gesto de conhecimento como eixos centrais, ensinou-nos um bocado de coisa sobre o trabalho, as relaes, os grandes temas profissionais, as pessoas, as empresas e a vida.

Neste, e em prximo artigo, quero compartilhar com amigos, alunos, ex-alunos, clientes, ex-clientes e parceiros, uma sntese desse aprendizado, da sabedoria construda na interao com os mais brilhantes profissionais brasileiros e as mais desafiadoras realidades e na superao das muitas barreiras que s serviram para fortalecer crenas e propsitos.

Nossa histria vale destacar coincidiu com um momento muito rico deste pas, um tempo de mudanas de paradigmas nos campos poltico, econmico, social e ambiental.

Para brincar com a ideia dos 20 anos, resumi tudo em breves 20 ensinamentos. Aqui vo os 10 primeiros:

(1) Comunicao estratgia e no mera atividade ttica. E isso independe do porte, da natureza e do tipo da empresa. Empresas que incorporaram essa lio esto enfrentando melhor o desafio de dialogar com seus pblicos de interesse num mundo pequeno, reticular e hiperconectado. As que no incorporaram seguem sob a proteo frgil do acaso. Boa sorte a elas!

(2) Comunicao boa e eficaz pressupe planejamento. No importa o tamanho do que se deseja comunicar. Na maioria das empresas, o discurso do planejamento ainda mais prdigo do que o planejamento em si, o que contribui para uma terceirizao perigosa do pensamento estratgico… E tambm para ampliar o mercado dos gestores de crise de imagem!

(3) E por falar em crise de imagem, atuar nesta atividade durante alguns anos me ensinou muito sobre o ser humano por trs dos executivos de empresa, s vezes escondido sob um verniz de poder e indestrutibilidade que agrada aos headhunters e a essas revistas de negcio, do tipo Exame. Muitos nem todos tornaram-se melhores aps a crise, em grande medida porque descobriram o que todo profissional mentalmente so deve descobrir um dia. No somos o centro, no somos a medida das coisas, no estamos acima dos fatos, no sabemos mais do que ningum, no somos melhores do que ningum.

(4) No comeo, bastava ter um produto funcional. Depois, era suficiente que este produto proporcionasse associaes positivas e boas aspiraes. Hoje, e cada vez mais, as pessoas querem estabelecer relaes com empresas que pensam e agem como elas. Os valores ganharam status. A dimenso tica ingressou na base do branding. E ainda tem gente achando isso tudo uma bobagem. Que o acaso os proteja, enquanto andarem por a.

(5) Organizaes de Terceiro Setor fazem muita diferena a favor das pessoas e do planeta. Essa diferena significativamente maior quanto mais bem planejadas e geridas elas so. Quando se afastam da noo de resultado, a servio de veleidades intelectuais, devaneios polticos, soluos corporativistas ou oportunismo financeiro, tornam-se irrelevantes, perdem o sentido e at mesmo a legitimidade para existir. As melhores organizaes que conheci foram justamente as que nunca perderam a noo de que existem para tentar solucionar um problema social.

(6) No existe nenhuma incompatibilidade entre as ferramentas de gesto e a atividade socioambiental. As ferramentas podem ser adequadas s finalidades das organizaes de terceiro setor. E as organizaes podem e devem se adaptar aos benefcios trazidos por ferramentas como planejamento, comunicao e avaliao de resultados. Desconfio dos que, movidos por retrica ideolgica, acham que o uso de ferramentas de gesto descaracteriza uma organizao. Em minha experincia, reuni pelo menos um milhar de exemplos de organizaes que, com a adoo inteligente de ferramentas de gesto, tornaram-se melhores, passaram a atender mais gente e com mais qualidade, a cumprir mais dignamente sua misso.

(7) Um dos melhores legados do boom do Terceiro Setor no incio dos anos 1990 que acompanhei de muito perto, como protagonista foi a formao de uma gerao de lderes e empreendedores sociais cuja ao, silenciosa mas eficaz, resultou na melhoria da qualidade de vida de milhes de brasileiros. Nem os governos nem as empresas produziram, com tanta abundncia, capital humano mais ntegro e com maior poder transformador.

(8) O conhecimento no tem mais dono. No mais monoplio de instituies, nem mesmo acadmicas, o que definitivamente altera relaes antigas de poder. Com a internet, um gari pode acessar todo o acervo da biblioteca de Londres no seu celular pr-pago. Um estudante de escola pblica do Brasil pode assistir s aulas de Harvard. Voc, como eu, deve conhecer pelo menos uma instituio perdida no autoengano de achar que retm conhecimento ou uma experincia nica, que ningum mais possui. Este tipo de organizao apoia-se no nome e na histria para justificar sua existncia. Defende agendas pessoais, atende a egos fora de controle. Tem enorme dificuldade em fazer conexo e participar dos novos arranjos de cocriao de conhecimento porque, para ela, as relaes no so horizontais, mas verticais. Este tipo de organizao j morreu e no sabe, precisa apenas ser enterrada.

(9) Quando Ideia Sustentvel nasceu, a comunicao era analgica. A internet era um experimento cientfico. E a teoria de comunicao baseava-se na ideia de um emissor, um receptor, um canal, uma mensagem e alguns rudos. O mundo hoje digital, a tecnologia da internet popularizou-se, e a teoria da comunicao bem… sofreu uma profunda transformao. Receptor tambm emissor, os canais so mltiplos, de vrias mos e custam pouco, as mensagens se espalham na forma de texto e imagem integrados e com velocidade estonteante, e os rudos esto absolutamente fora de controle. Os artigos que escrevia sobre sustentabilidade para a Gazeta Mercantil (2006 a 2010) eram vistos por centenas de pessoas. E os comentrios sobre responsabilidade Social na TV Cultura (2004-2005), por alguns milhares de pessoas. Com as redes sociais, nossos contedos so acessados por centenas de milhares de pessoas que os comentam, contestam, criticam, corrigem, aperfeioam, curtem e compartilham. Isso no mudana, mas revoluo. Que bom que estamos podendo viver tudo isso.

(10) Minha longa experincia com sustentabilidade me levou a crer que, a despeito das polticas, das ferramentas e dos indicadores, e alm das vontades abstratas das corporaes, o que faz mesmo a diferena para a insero deste conceito no negcio a existncia de pessoas, nas empresas, que acreditam e trabalham apaixonadamente pelo tema. Pessoas so fundamentais, o resto detalhe. No fosse a crena de indivduos sensveis ao tema no teramos feito, na Ideia Sustentvel, a dcima parte do que fizemos, o que inclui a, apenas para lembrar trs grandes aes visionrias, o Frum Permanente do Terceiro Setor (1998-2004), a revista Ideia Sustentvel (desde 2005) e a Plataforma Liderana Sustentvel (desde 2011).

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