Há exatos 10 meses, em uma de minhas palestras – sobre a crise ambiental sem precedentes enfrentadas pela humanidade-, propus uma dinâmica para o público.
Pedi para que fechassem os olhos e imaginassem um mundo sem recursos, onde o dinheiro não tinha valor, com pessoas em desespero, lutando por mantimentos básicos e suprimentos essenciais, em um cenário em que governos e autoridades não mais exerciam poder algum sobre a organização da sociedade, valendo a lei do mais forte.
Nesse cenário, qual seria a importância do seu negócio, empresa, estilo de vida, ego, poder de consumo, influência ou status?
Qual seria, em geral, a sua importância?
A dinâmica, acompanhada da imagem do filme “O livro de Eli”, servia apenas para ilustrar as previsões de autoridades mundiais a respeito das mudanças climáticas e da crise ambiental e seus impactos para a vida humana nos próximos 30 anos, mas o que eu não podia imaginar é que estivéssemos tão perto de viver algo também citado naquela palestra.
Além do aumento do nível dos oceanos, da escassez de recursos naturais, da poluição, das tragédias naturais e tantas outras catástrofes, as pesquisas de órgãos mundiais preveem o aumento da disseminação de doenças causadas pelo crescimento substancial de vetores que transitem vírus capazes de dizimar a humanidade. Somente na última década, isso tem crescido de forma assustadora, segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde).
Hoje, 7 milhões de pessoas morrem todos os anos decorrentes de doenças causadas pelas mudanças do clima. Isso inclui a disseminação de vírus que, com o descontrole do clima, também são potencializados.
O que precisamos entender é que tudo está interligado. Quando extinguimos ou incentivamos uma espécie, por menor que ela seja, causamos uma catástrofe do ponto de vista do equilíbrio ecológico e isso vai, de alguma forma, voltar ao ser humano, seja pelo ar, água, solo ou por outro ser vivo, seja ele um rato, formiga, elefante ou um morcego.
Agora, com a pandemia do coronavírus, a humanidade dá de cara com uma realidade que ela mesma negava: precisamos mudar, e isso é urgente.
A emissão de gás carbônico precisa ser drasticamente reduzida, o consumo repensando, a produção reinventada, a vaidade deixada de lado e a vida priorizada em todas as suas formas. Precisamos das formigas, dos polens das flores, dos cactos, da poeira africana que fertiliza plânctons e copas arbóreas amazônicas. Somos dependentes de correntes marítimas que carregam pinguins, sardinhas e jubartes de norte a sul em uma dinâmica que controla ventos, primaveras, verões, outonos e invernos, dinamizando chuvas, secas, acasalamentos e nascimentos.
Dependemos de um urso que, embora seja chamado polar, carrega uma amplitude em suas ações que não se restringe ao hemisfério norte planetário, mas controla a população de focas que não pode deixar de comer peixes. Esses, por sua vez, se tiverem mais predadores que o comum, poderão não cumprir sua importante missão em corais caribenhos, os quais são produtores de alimentos para espécies microscópicas que controlam a produção dos gases lançados na atmosfera, posteriormente inspirados por plantas que irão fornecer néctar para abelhas, beija-flores e, curiosamente, morcegos. Agora, imagine o impacto gerado caso um elemento dessa cadeia minuciosamente arquitetada seja quebrado. Sem comida, animais passarão a invadir o cotidiano das megalópoles em busca de sobrevivência. Juntos, carregarão milhares de tipos de vida que são inofensivas para as florestas, mas catastróficas para os prédios e avenidas contemporâneas. E a culpa será dos morcegos…
Dependemos de todos, só não podemos achar que dependemos só de nós mesmos. 2050 é logo ali, mas ainda dá tempo de mudar, nem que seja na dor do isolamento.
Seja responsável, evite aglomerações. Que a dor da solidão nos ensine a viver em conexão com o todo.
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