Ao passo de um gigante, avançamos sobre a Terra consumindo seus recursos como se fossem infinitos. É o que nos indica a pegada ecológica, mecanismo criado na década de 90 com o objetivo de dimensionar a marca que deixamos no Planeta. E o resultado não tem sido motivo de orgulho: consumimos 25% a mais do que a natureza é capaz de suprir. Em outras palavras, o planeta precisaria de 15 meses para gerar os recursos usados pela humanidade em um único ano.
Diante do desafio de equacionar essa relação, a pegada ecológica se apresenta como uma forma para interpretar a realidade, promovendo as mudanças necessárias nos modelos de produção, consumo e comportamento para o uso mais equilibrado dos recursos naturais. Uma verdadeira revolução do padrão civilizatório atual, que se inicia também pelas atitudes de cada indivíduo.
Nossa marca no Planeta
Segundo definição do WWF, a pegada ecológica de um país, de uma cidade ou de uma pessoa, corresponde ao tamanho das áreas produtivas, de terra e de mar, necessárias para gerar produtos, bens e serviços que sustentam determinados estilos de vida.
Em 1996, William Rees e Mathis Wackernagel lançaram o livro “Nossa pegada ecológica – reduzindo o impacto humano na Terra” que ajudou a disseminar a metodologia pelo mundo. Desde então, o assunto, antes restrito ao círculo acadêmico e de ativistas, tem ganhado cada vez mais espaço entre os cidadãos e organizações. Sobretudo, com a ascensão das ferramentas online para cálculo da pegada ecológica.
Para Miriam Duailibi, presidente do Instituto Ecoar, a ferramenta ajuda a mostrar que o estilo de vida atual é insustentável. “A pegada ecológica possibilita que as pessoas tenham uma visão mais concreta dos impactos do seu estilo de vida no Planeta”, ressalta.
Segundo o último levantamento feito pelo Global Footprint Network, a pegada ecológica global é de 14,1 bilhões de hectares globais ou 2,2 hectares globais por pessoa. Essa média está relacionada aos 11,4 bilhões de hectares biologicamente produtivos disponíveis. Dividindo essa área pela população mundial de cerca de seis bilhões, a biocapacidade média disponível por pessoa seria de 1,8 hectare.
Em 1961, quando os cálculos da Pegada Ecológica começaram a ser realizados pela Global Footprint Network, a população humana já usava 70% da capacidade produtiva da Terra. Em 1987, pela primeira vez a humanidade consumiu mais recursos do que o planeta era capaz de oferecer.
O relatório Planeta Vivo, elaborado pela WWF e Global Footprint Network em 2006, alerta que caso essa tendência de consumo seja mantida, em 2050 a humanidade vai demandar duas vezes mais recursos do que o Planeta é capaz de suprir.
Segundo a WWF, uma das principais conseqüências desse desequilíbrio é a perda de serviços ambientais e biodiversidade. Entre 1970 e 2000, 35% das espécies desapareceram, índice comparável a eventos de extinção em massa ocorridos apenas quatro vezes durante bilhões de anos da história da Terra. Todos eles causados por desastres naturais.
Avaliar até que ponto o nosso impacto já ultrapassou o limite da capacidade biológica é essencial para buscar padrões de vida, tecnologias e processos mais sustentáveis. E a pegada ecológica tem sido utilizada ao redor do mundo como um indicador de sustentabilidade. Ela pode ser útil para mensurar e gerenciar o uso de recursos naturais em toda atividade econômica. Também representa uma ferramenta importante para incentivar a sustentabilidade dos estilos de vida individuais, dos produtos, serviços, organizações, indústrias, cidades e nações.
“A pegada ecológica veio demonstrar de forma clara o desafio de reduzir nossos impactos na natureza. Trata-se de uma ferramenta de análise muito simples, mas contundente”, afirma Genebaldo Freire Dias, autor do livro “Pegada Ecológica e Sustentabilidade Humana”.
Mais recentemente, popularizou-se outra ferramenta para mensurar os impactos humanos no meio ambiente, a pegada de carbono. Esse mecanismo, no entanto, baseia-se apenas nos dados referentes às emissões de carbono e, diferentemente da pegada ecológica, apresenta o resultado final em toneladas de carbono e não hectares globais.
O que compõe a pegada ecológica
A pegada ecológica é uma forma de traduzir, em hectares, a extensão de território que uma pessoa ou toda uma sociedade “utiliza”, em média, para atender suas necessidades.
Para fazer essa conta, são considerados vários tipos de territórios produtivos. O primeiro deles corresponde às terras de pastagem destinadas a criação de gado, produção de leite, carne e lã. No mundo, cerca de 3,4 bilhões de hectares são classificados como sendo de pastagem permanente, A divisão dessa extensão pela população mundial resulta na média de 0.6 hectare per capita.
A expansão dessas áreas tem sido a causa principal da diminuição das áreas de florestas, outro aspecto a ser considerado no cálculo da pegada ecológica. Naturais ou plantadas, as terras de florestas são destinadas à produção de fibras, madeira e combustíveis. Essas áreas também asseguram outros tipos de funções, como a estabilidade do clima, previnem erosões, mantêm os ciclos hidrológicos e, quando manejadas de forma sustentável, protegem a biodiversidade.
Já nas terras de cultivo, são produzidos os alimentos e ração de animais. Segundo a FAO, elas ocupam cerca de 1,5 bilhão de hectare no mundo. Desses, cerca de 1,35 de bilhão de hectare, correspondente as áreas mais férteis, já estão sendo utilizados. Ainda assim, 10 milhões de hectares são abandonados anualmente por causa da degradação do solo.
As áreas bioprodutivas de mar, por sua vez, são destinadas à pesca. Segundo Wackernagel e Rees, autores de “Nossa pegada ecológica – reduzindo o impacto humano na Terra”, do espaço total dos oceanos (36,3 bilhões de hectares) somente 8% concentram-se ao longo das costas dos continentes no mundo e fornecem 95% da produção ecológica do mar.
As terras de energia, outro fator levado em conta, são áreas fictícias em que se calcula a pegada do CO2, estimando-se a área biologicamente produtiva necessária para seqüestrar as emissões de carbono para evitar um aumento desse gás na atmosfera. Dados do WWF revelam que há 3,8 bilhões de hectares desse tipo no mundo.
Há ainda o espaço pavimentado, construído ou degradado que correspondem às áreas destinadas a moradia, transporte, aos produtos industriais e às hidroelétricas. Esse espaço é menos documentado e, por isso, utiliza-se de um total global de 0,3 bilhão de hectare de terras construídas e pavimentadas.
Por fim, é preciso incluir as áreas usadas para receber os detritos e resíduos gerados e reservar uma quantidade de terra e água de preservação para os demais seres vivos, condição essa essencial para o equilíbrio dos ecossistemas.
Estilo de vida
De modo geral, sociedades altamente industrializadas usam mais espaços bioprodutivos do Planeta do que a população de culturas ou sociedades menos industrializadas. Suas pegadas são maiores porque, ao utilizarem recursos de todas as partes do mundo, afetam locais cada vez mais distantes.
“O estilo de vida e o consumo de um individuo, de uma família ou de uma sociedade têm influencias locais e globais. Os EUA, por exemplo, consomem 43% da gasolina do Planeta para movimentar internamente 5% da população global, com isso impacta o clima e a vida de todos no mundo”, afirma Eduardo Athayde, diretor da Universidade da Mata Atlântica (UMA), organização que representa o World Watch Institute no Brasil.
Segundo o relatório Planeta Vivo, elaborado pela WWF e Global Footprint Network, a pegada ecológica per capta dos países industrializados estão bem acima da média ideal de 1,8 hectares globais. Nos Estados Unidos, por exemplo, esse índice é de 9,6, enquanto na Somália é de apenas 0,4.
De maneira geral, nenhum país dá conta do desafio de oferecer o bem estar social da sua população, sem comprometer a disponibilidade de recursos naturais.
“A pegada ecológica é uma ferramenta que permite ampliar a percepção das pessoas a respeito da sua contribuição pessoal às pressões sobre os recursos ambientais. Facilita a percepção das pressões causadas por diferentes países e seus padrões de produção e consumo”, reforça Genebaldo Freire Dias, autor do livro “Pegada Ecológica e Sustentabilidade Humana”.
Rever atitudes é a melhor forma de reduzir a pegada ecológica. “Devemos reduzir muito o nosso consumo. Tudo o que consumimos provêm de recursos naturais. Precisamos adquirir uma nova racionalidade que nos permita perceber o que é essencial e o que é demanda induzida”, afirma Mirian Duailibi.
A presidente do Instituto Ecoar chama atenção para hábitos cotidianos, como o tempo gasto no banho, e a busca por tecnologias mais eficientes, inclusive as mais simples para aquecer a água, por exemplo. Segundo cálculos da Sociedade do Sol, o chuveiro elétrico consome cerca de 10 % da demanda nacional de energia. “A grande maioria dos brasileiros utiliza o chuveiro elétrico, que é uma tecnologia altamente dissipadora de energia e que pode ser substituída por outra que consuma menos ou até por uma tecnologia limpa, como os aquecedores solares de água de baixo custo”, defende.
Pequenos cuidados também fazem a diferença. “O simples fato de deixar os aparelhos eletrônicos em standby, por exemplo, pode aumentar em até 11% o consumo de energia”, ressalta Mirian.
Repensar a necessidade de descolamentos com automóveis é outro aspecto importante destacado pela especialista. Segundo o relatório Stern, o setor de transportes é responsável por 14% das emissões globais de gases causadores do efeito estufa.
Por fim, Mirian ressalta a importância de procurar consumir produtos produzidos localmente, reduzindo gastos e mais emissões com transporte.
Consumo consciente
Outro fator importante para redução da pegada ecológica é o uso do poder de compra do consumidor de forma consciente.
Quanto maior o nível de consciência no consumo, mais efetiva podem ser as contribuições para a construção de uma sociedade sustentável. Isso porque, ao basear as suas decisões de compra em critérios socioambientais, os consumidores têm o poder de punir ou recompensar as empresas em decorrência da sua postura, induzindo padrões mais sustentáveis no mercado.
Apesar de figurarem entre os mais preocupados com as mudanças climáticas, por exemplo, os consumidores brasileiros também estão entre os mais acomodados em relação a mudanças em comportamentos para reduzir impactos no meio ambiente. “Na média, não conseguimos estabelecer as conexões que existem entre os nossos hábitos com os problemas ambientais. Não é tão simples perceber que o modo de se locomover, descartar resíduos são responsáveis pelo aquecimento global, por exemplo. Reconhecemos que o desmatamento na Amazônia é um problema a ser enfrentado, mas na hora de comprar móveis não perguntamos de onde vem a madeira. Apesar de termos informações, continuamos consumindo da mesma forma”, ressalta Mirian.
De acordo com a pesquisa “Novo consumo pela sustentabilidade: os brasileiros diante das mudanças climáticas”, realizada pela Market Analysis, três em cada quatro consumidores no Brasil atribuem alta relevância à questão ambiental, incluindo o tema entre as suas três principais preocupações. Em contrapartida, os brasileiros estão entre os mais inertes. A média mundial de inação é de 35%. No Brasil, chega a 69%.
Ainda segundo o documento, metade da população brasileira não se mostra disposta a abrir mão das benesses econômicas em nome de um modelo de desenvolvimento mais respeitoso ao meio ambiente. Apenas um em cada seis pode ser classificado como consciente e efetivamente mobilizado. Os que tomam atitudes concretas limitam-se a pequenas ações como reciclagem, redução de consumo e descarte adequado de lixo, deixando de lado, ações engajadas como, por exemplo, fazer compras de baixo consumo de energia ou mobilizar outras pessoas.
A acomodação decorre do fato de que, na média mundial, o Brasil possui um ótimo desempenho ambiental, segundo o World Resources Institute. E segundo a Market Anaysis, quanto menos deteriorado é o ambiente local, menor tende a ser a percepção da necessidade de mudança.
Para Genebaldo Freitas Dias, a resistência a mudanças de hábito se deve ao modelo civilizatório atual, consolidado pelos sistemas de ensino e meios de comunicação. “O analfabetismo ambiental atrelado à ganância e a busca do poder, da acumulação simples de coisas e dinheiro, são os principais desafios para redução da pegada ecológica. As pessoas se apegaram ao consumismo como objetivo de vida, símbolo de sucesso”, ressalta.
Mudar o padrão civilizatório atual requer um novo modelo educacional. Segundo Mirian, a situação de desequilíbrio que vivenciamos hoje resultada da idéia de os recursos naturais são infinitos. “O modelo de civilização atual é predatório, excludente e gerou essa situação de insustentabilidade planetária. Precisamos de uma educação, baseada em outra visão de mundo que seja holística, sistêmica, e estimule o respeito à diferença, humana e natural”, afirma.
Revisão de processos e produtos
Analisar os processos, produtos e práticas de determinada empresa e sua cadeia de valor além de ser um exercício essencial para redução da pegada ecológica, tem se tornado questão de sobrevivência para os negócios.
Temas como valorização da biodiversidade, eficiência energética, aproveitamento de resíduos, análise do ciclo de vida dos produtos, redução de emissões de gases causadores do efeito estufa, neutralização de carbono passaram a ser assunto de primeira hora nas companhias.
A Alcoa, por exemplo, apostou na recuperação de áreas mineradas antes mesmo de a reabilitação desses locais se tornar obrigatória, em 1988. A empresa implementou um sistema com esse objetivo na unidade de Poços de Caldas, em 1978 que se transformou em referência mundial por ser o primeiro a utilizar plantas nativas. Atualmente, o total de áreas reabilitadas é de aproximadamente 400 hectares, com o foco na regeneração do meio ambiente e o equilíbrio da fauna e flora locais.
A companhia também mantém dois parques ambientais, localizados em Minas Gerais e no Maranhão, que são áreas remanescentes da Mata Atlântica e do Pantanal. Nessas áreas, são mantidos centros de pesquisa para o estudo de espécies nativas e incentivo à integração da comunidade com o meio ambiente.
A revisão dos processos produtivos também proporcionou a redução de emissões de gases causadores do efeito estufa. Em 2003, a Alcoa atingiu a meta de 25% de redução da emissão desses gases em relação a 1990. Segundo Maurício Born, gerente de Saúde, Segurança e Meio Ambiente da Alcoa, o desafio agora é manter as emissões atuais frente ao crescimento da empresa. Para isso, a companhia pesquisa novas tecnologias e processos de fabricação do alumínio, além de formas de aprimorar a sua eficiência energética. “Nosso foco agora é buscar fontes alternativas de energia, como, por exemplo, o biodiesel, que já estamos utilizando na frota de veículos”, afirma Born.
Para Genebaldo Freitas, a redução das emissões de carbono a partir da revisão dos processos produtivos é o primeiro passo para redução da pegada ecológica. “Para reduzir emissões, é essencial que as empresas verifiquem cada processo e sistemas de modo que se tornem mais eficientes. Se assim o fizerem, já estarão contribuindo muito para a construção de uma sociedade sustentável. Mas essa não é uma tarefa simplória, requer compromisso e investimento em pesquisa e novas tecnologias”, ressalta.
Ciclos fechados
Assim como na natureza em que nada se perde, tudo se transforma, as empresas têm buscado formas de utilizar resíduos como matéria-prima, reduzindo a necessidade de extração de novos recursos e descarte na natureza.
“É preciso analisar para onde estão indo os resíduos, desenvolver formas de reduzir sua produção, reutilizá-los e reciclá-los. E procurar trabalhar com ciclos fechados, assim como na natureza, em que o resíduo de um processo torne-se matéria-prima para outra atividade”, explica Mirian Duailibi.
A partir desse exercício, a Holcim desenvolveu a metodologia de co-processamento, trazida para o Brasil em 1999, com a criação da Resotec, divisão da empresa responsável por essa atividade.
Por meio do co-processamento, resíduos da indústria siderúrgica, petroquímica, automobilística, de pneus, alumínio, tintas, embalagens, papel e outros são reaproveitados no processo produtivo do cimento, sem prejuízos à qualidade do produto ou às condições de segurança dos trabalhadores e da comunidade. “Ao utilizar resíduos de outras indústrias, estamos ajudando a reduzir passivos ambientais que de outra forma iriam para aterros, destaca Thomas Uebelhard, diretor industrial da Holcim.
A Alcoa, por sua vez, desenvolveu um reator que permite filtrar as emissões gasosas durante a fusão do alumínio, utilizando a alumina que é uma das matérias-primas. Depois de servir como meio filtrante, ela retorna para o processo. Esse sistema proporciona ainda a recuperação de outro insumo, o floreto de alumínio, evitando que ele seja extraído novamente da natureza. Para gerenciar esses processos de aproveitamento de resíduos e descobrir novas aplicações, a companhia criou o departamento de venda de produtos especiais. Com isso, muitos materiais antes considerados resíduos hoje são comercializados como matéria-prima para outras empresas. É o caso dos carbonácios, que são utilizados pela indústria cimenteira e siderúrgica. Também já está em fase avançada de pesquisa a utilização do resíduo de resina de bauxita para indústria de azulejos ou de cerâmica. “O resíduo é um insumo que se compra, paga-se por ele e acaba não sendo adicionado ao produto e, portanto, não gerando receita. Além disso, ainda tem-se que gastar para descartá-lo. Por isso, o ideal é reduzir a quantidade de resíduos gerados ou tentar eliminá-los, o que nem sempre é possível. Uma alternativa é utilizá-los em outros processos”, explica Born.
Economia de baixo carbono
Nos próximos anos, as mudanças climáticas vão definir o rumo dos negócios e certas adaptações serão necessárias para a consolidação de empreendimentos, administração de riscos e geração de oportunidades. Esta é a principal conclusão a que chegou o relatório Adaptation – an issue brief for business (Adaptação, a síntese de uma questão para os negócios), do Conselho Empresarial Mundial pelo Desenvolvimento Sustentável (WBCSD).
Para Marco Antônio Fujihara, consultor do Instituto Totum, a adequação ao contexto das mudanças climáticas representa uma necessidade básica para os negócios. “A grande questão em pauta é que o protocolo de Kyoto transferiu a problemática da área ambiental para a área de mercado. Transformou a vulnerabilidade das mudanças climáticas numa questão mercadológica”, afirma.
À medida que o mundo se volta para uma economia de baixa emissão de carbono, as empresas que saem na frente com o desenvolvimento de soluções sustentáveis e novas tecnologias mais limpas, ganham vantagens competitivas.
Basta observar os exemplos de casa. Segundo Eduardo Athayde, o Brasil está dando importantes passos no processo de transição para uma economia sustentável. “Os maiores bancos, já estão alinhados aos Princípios do Equador, que estabelece critérios socioambientais para operações de project finance. A Braskem, uma das maiores empresas petroquímicas do mundo, investe no biopolietileno produzido com 100% de matéria-prima renovável a partir da cana-de-açúcar, ajudando a minimizar a emissão de carbono da empresa e acelerando o processo de descarbonização local. Estratégia essa que tem causado impactos positivos no valor de mercado da empresa e em suas ações na bolsa”, ressalta.
Mirian acredita que a procura por produtos e tecnologias mais limpas é uma tendência que veio para ficar. “Os consumidores vão preferir os chamados produtos low carbon, que têm baixa emissão de carbono na sua cadeia produtiva. Essa tendência já começa a dar sinais em alguns mercados, sobretudo, nos europeus e não vai demorar muito para chegar ao Brasil”, sinaliza Mirian.
Athayde vai além e defende a criação de um “carbon index” para o mercado de ações. “Os investidores precisam conhecer o inventário de carbono das empresas alvos dos seus investimentos. Afinal, ações podem ser propulsoras ou mitigadoras da crise climática, e o investidor consciente, também”, aponta.
Antevendo-se a essa demanda, o Bradesco criou produtos como o Cartão de Afinidade SOS Mata Atlântica, o título de capitalização Pé Quente Bradesco SOS Mata Atlântica e o EcoFinanciamento de Veículos, associados a iniciativas de preservação e recuperação de vegetações nativas.
“O banco acredita que o mercado irá reagir positivamente em relação à disponibilização de produtos low carbon. Essa crença refletiu na criação de produtos afins ao tema, como os que fomentam, de alguma forma, as florestas”, afirma Jean Philippe Leroy, diretor de relações com investidores do Bradesco.
Uma das primeiras instituições financeiras a criar um Programa de Compensação de Carbono, neste ano o Bradesco obteve a certificação ISO 14064, que atesta a credibilidade dos mecanismos da empresa para quantificar e monitorar suas emissões. Para 2008, o banco assumiu a meta de compensar suas emissões de gases de efeito estufa geradas em 2007, e reduzí-las em 3,5%.
Além de adotar medidas de ecoefiência para otimização do uso de recursos e energia, o banco realiza a compensação de emissões com o plantio de mudas de árvores nativas da Mata Atlântica.
Rotulagem
O debate acerca da inserção de informações relativas ao ciclo de vida no rótulo dos produtos começa a ganhar contornos no mundo. Iniciativas como a Carbon Trust tem advogado em defesa da menção da pegada de carbono nas embalagens, mas ainda há muitas dúvidas quanto ao impacto dessas informações no consumidor.
Mirian aposta que, com o tempo, a prática da inserção das emissões de gases causadores do efeito estufa nos rótulos se desenvolverá assim como ocorreu com as informações nutricionais. “A rotulagem de emissões de carbono vai virar uma questão de competição. Quando a menção das informações nutricionais e existência ou não de gorduras trans nos produtos passou a ser obrigatória houve muita resistência. As empresas alegavam que iriam gastar mais e acabariam quebrando. Mas isso não aconteceu. É só uma questão de adaptação”, defende.
No Reino Unido, a prática começou, de fato, em 2007 com a inserção de eco-rótulos em produtos agrícolas pelas empresas Tesco e Marks&Spencer. Os adesivos apresentavam a ilustração de uma pequena aeronave para indicar que os produtos importados causavam impacto ambiental devido ao transporte aéreo para o País.
No entanto, o mecanismo foi considerado controverso pelas próprias companhias. Em entrevista ao jornal The Guardian, o porta-voz da Tesco admitiu que um selo com a figura de um avião não teria exatamente um valor ambiental. Em sua defesa, alegou a existência de estudos que indicam níveis mais altos de emissões de carbono em mercadorias locais cultivadas em estufas do que os transportados por avião.
Mas de nada adianta os consumidores se preocuparem com a pegada de carbono dos produtos, se em paralelo não revisarem a sua própria. É o que defende John arnold, gerente de novos produtos e desenvolvimento de cadeias produtivas da Fairtrade Foundation. Para ele os consumidores estão escolhendo os focos errados para exercer o seu ato de consumo consciente em relação às mudanças climáticas.
Na opinião de Arnold, as pessoas são levadas a aceitar com naturalidade a idéia de que apenas atividades dos outros emitem carbono. Nunca aceitam a sua parte de responsabilidade.
Em resposta aos questionamentos em relação aos eco-rótulos, a Tesco passou a incluir nas pegadas de carbono dos seus produtos as emissões relativas a todo o ciclo de vida até o descarte. Em paralelo, a companhia divulga dicas aos seus clientes de como reduzir sua pegada, mencionando, inclusive, a economia financeira possível a partir da redução do desperdício.
No Brasil, a Natura lançou a tabela ambiental que traz dados sobre as formulações e embalagens dos produtos. Ela indica o percentual de material reciclado utilizado na confecção do frasco e da tampa da embalagem, o percentual de material reciclável e o número recomendado de refilagem para cada produto.
O rótulo também apresenta informações como o percentual de ingredientes vegetais renováveis e sem processamento químico, assim como a fração da formulação cuja origem foi certificada pelo Forest Stewardship Council (FSC) e Instituto Biodinâmico (IBD).
“Assim como os produtos e alimentos trazem uma tabela nutricional, criamos a tabela ambiental que mostra o percentual de ativos vegetais renováveis certificados dos nossos produtos. Apostamos nessa iniciativa como uma ação de educação para o consumo consciente”, Rodolfo Guttilla, diretor de assuntos corporativos e relações governamentais da Natura.
Genebaldo Freire Dias defende que a prática de rotular os produtos com informações ambientais é um importante indutor para redução da pegada ecológica. Mas a sua popularização depende da pressão dos consumidores.
“As informações relativas ao ciclo de vida deveriam estar presentes no corpo de todos os produtos como forma de estimular a redução da pegada de carbono. No entanto, para viabilizar isso, precisamos de mais pressão popular. É necessário massa crítica e consciência do próprio consumidor, condições que ainda estão se formando”, conclui.
Você sabia?
Uma sacola de plástico comum demora, em média, 600 anos para se decompor e, se não for reciclada, produzirá gás metano que é 21 vezes mais poluidor que o CO2.
Fonte: Instituto Ecoar
Você pode:
Utilize sacolas de pano ou caixas de papelão ao fazer compras e, consuma apenas o necessário dando preferência por produtos e serviços efetivamente preocupados com essa questão.
Fonte: Instituto Ecoar
Você sabia?
Somos hoje 6 bilhões de habitantes no planeta, com um consumo médio diário de 40 litros de água por pessoa. Um europeu gasta de 140 a 200 litros por dia, um norte-americano, de 200 a 250 litros, enquanto em algumas regiões da África há somente 15 litros de água disponíveis a cada dia para cada morador.
Fonte: WWF
Você pode:
Economize 46 litros de água por dia consertando aquela torneira que goteja. Outros 10 litros podem ser poupados apenas fechando a torneira quanto escova os dentes. Ao reduzir o banho de 15 para 10 minutos é possível economizar 60 litros de água.
Fonte Instituto Ecoar
Você sabia?
Parte dos gases de efeito estufa, causadores do aquecimento global, provém da criação de gado. Além disso, a produção de 1 kg de carne demanda 20 mil litros de água e emite cerca de 3,7 Kg de CO2 para a atmosfera.
Você pode:
Reduza seu consumo de carne e contribua para a redução das emissões de gases causadores de efeito estufa e com a preservação das florestas nativas, ameaçadas pela expansão das pastagens.
Fonte: Instituto Ecoar
Você sabia?
No Brasil a maior parte da energia elétrica consumida é produzida por hidroelétricas, que exigem, para seu funcionamento, a construção de grandes barragens. Apesar de ser considerada limpa por não emitir carbono, a construção de hidroelétricas reduz a área florestas, impacta a biodiversidade, retira comunidades de suas terras e altera os climas locais e regionais com o aumento das superfícies de evaporação.
Fonte: WWF
Você pode:
Reduza seu consumo de energia, evitando desperdícios e utilizando equipamentos mais eficientes. Evite assim que mais rios sejam represados e outras áreas inundadas.
Fonte: WWF
Você sabia?
Os resíduos naturais, ou matéria orgânica, podem ser inteiramente absorvidos e reutilizados pela Natureza, mas o tipo de resíduos que nossa civilização produz nos dias de hoje, especialmente os plásticos, não podem ser eliminados da mesma forma. Eles levam milhares de anos para se desfazer no ambiente. A média nos grandes centros urbanos é de 1kg por pessoa.
Fonte: WWF
Você pode:
Comece separando o lixo entre seco (reciclável) e o úmido (orgânico). Parte do lixo seco pode ser encaminhado para a reciclagem e o lixo orgânico, por sua vez, pode ser destinado a compostagem.
Fonte: WWF
Você sabia?
A maioria dos meios de transporte que utilizamos em nosso cotidiano utilizam combustíveis fósseis, ou seja, não renováveis. Esta fonte energética que vem do petróleo, do carvão e do gás natural polui o ar, principalmente nos grandes centros urbanos, devido à enorme quantidade de automóveis.
Você pode:
Utilize o transporte coletivo e ofereça carona sempre que possível. Andar de bicicleta e fazer pequenos trechos a pé, também ajuda a reduzir sua pegada.
Fonte: WWF