Estudo NEXT – Especial MPE: A pequena empresa em rede: cooperação para a sustentabilidade

Estudo NEXT – Especial MPE: A pequena empresa em rede: cooperação para a sustentabilidade

Por João Amato Neto

A corresponsabilidade dos diversos estados, organizações privadas e pessoas acentua-se na análise das causas dos problemas ambientais. Na outra ponta, a da solução desses problemas, a cooperação é que tece a rede na qual se coordenam as operações simultâneas e os esforços paralelos.

Uma das grandes estratégias de competição é a cooperação. Por mais paradoxal que pareça, a prática mostra-se bem convincente. As redes de cooperação produtiva podem ser construídas por diversos atores, como empresas concorrentes e complementares, cooperativas, universidades e institutos de pesquisa, governos, sindicatos, associações de produtores e consumidores, e ONGs.

Principalmente nos novos mercados sustentáveis, uma gigante transnacional pode precisar dos serviços de uma “nanoempresa de tecnologia de energia limpa ou de uma cooperativa de reciclagem, que também pode prestar serviços para a prefeitura local, com financiamento do banco estadual a juros favoráveis para negócios ambientalmente responsáveis.

Com a expansão gerada pela economia verde, que criou novos mercados para novos negócios, parece haver muito mais espaço para todas as formas de organização da atividade econômica (da empresa global à economia solidária local). Muitas vezes, atuar em conjunto é uma forma de sobreviver e de lucrar mais do que atuar isoladamente.

Para que construir uma rede de cooperação produtiva ou nela tomar parte? Eis algumas vantagens:

  • Combinar competências e utilizar know how de outras empresas;
  • Dividir o ônus de realizar pesquisas tecnológicas, compartilhando o desenvolvimento de produtos e processos e os conhecimentos adquiridos;
  • – Partilhar riscos e custos de explorar novas oportunidades, realizando experiências em conjunto;
  • – Oferecer uma linha de produtos de qualidade superior e mais diversificada;
  • – Exercer uma pressão maior no mercado, aumentando a força competitiva em benefício do cliente;
  • – Compartilhar recursos, com especial destaque aos que estão  subutilizados;
  • – Fortalecer o poder de compra junto a fornecedores;
  • – Obter mais força para atuar nos mercados internacionais.

As redes de cooperação podem tomar diversas formas e funcionar junto a parques tecnológicos e incubadoras. É comum que pequenas empresas de alta tecnologia se formem em regiões próximas a grandes centros tecnológicos e universidades, que “derramam” (spillover) suas inovações para a criação de novos produtos e negócios. Assim se formou o Vale do Silício, na Califórnia (EUA), onde surgiram algumas pequenas empresas, como Microsoft, Apple, Google e tantas outras.

Quando micro, pequenas e/ou médias empresas de um mesmo setor se concentram em certa localidade, formam os clusters regionais, arranjos produtivos locais ou sistemas locais de produção e inovação.

Mas a estratégia local nunca foi tão global. Daí é que, no lugar da palavra globalização, surgiu a ideia de glocalização, cujo lema é “agir localmente, pensar globalmente”. Esse lema é essencial para a sustentabilidade. Qualquer negócio que queira prosperar precisa pensar no seu meio, na comunidade que o cerca, nas vantagens que dela pode extrair e que a ela pode levar.

Muitas vezes, a rede de cooperação é virtual. Utilizando tecnologias como a internet, criam-se verdadeiras redes globais de cooperação. Assim, alavanca-se a competitividade de cada parceiro, e até pequenas empresas podem ganhar condições de atuar no mercado mundial, mesmo com uma sede pequena ou sem uma sede física – como uma empresa virtual.

O empreendedorismo em rede pode se desenvolver de várias maneiras. Algumas das formas de se organizar e compartilhar infraestrutura são as incubadoras de empresas, os parques tecnológicos e os ecoparques.

As dificuldades para criar e manter um negócio podem ser mitigadas quando as empresas de menor porte se associam em organizações na forma de sistemas cooperativos. Assim, constroem uma espécie de “guarda-chuva organizacional”, que fornece às empresas serviços comuns de compras, marketing, orientações quanto à exportação, mecanismos de financiamento e até mesmo locais para a implantação de uma planta-piloto. É o que acontece com os parques tecnológicos.

Também ocorre nas incubadoras de empresas e de cooperativas. O termo “incubadora” traduz exatamente a ideia de um ambiente controlado para amparar a vida. Assim como em uma fazenda, onde as incubadoras são usadas para manter um ambiente aquecido para a incubação de ovos, ou em um hospital, em que o recém-nascido prematuro pode ficar algumas horas ou semanas numa incubadora, para fornecer apoio adicional durante o primeiro período crítico de vida, no contexto do desenvolvimento econômico as incubadoras existem para apoiar a transformação de empreendedores potenciais em empresas ou cooperativas crescentes e lucrativas.

Um novo conceito, na mesma linha dos anteriores, é o dos ecoparques. Um parque ecoindustrial, como definiu o Conselho dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Sustentável, “é uma comunidade de negócios que cooperam entre si e com a sociedade local para compartilhar recursos de forma eficiente (informação, energia, água, materiais, infraestrutura e recursos naturais), levando a ganhos econômicos e na qualidade do meio ambiente, e à equidade dos recursos humanos nos negócios e na comunidade local” (US President’s Council on Sustainable Development, 1997).

No sentido de conjugar as vantagens competitivas das aglomerações de empresas às potencialidades ambientais que possam gerar, surgiu o conceito de simbiose industrial – definida como o engajamento de indústrias originalmente isoladas em uma formação coletiva, em busca de vantagens competitivas da proximidade geográfica por meio da troca física de materiais, energia, água e subprodutos. A origem desse conceito está na concepção de ecossistemas industriais que otimizem o consumo de energia e matéria, de forma que os resíduos gerados por um processo produtivo sejam logo incorporados como matéria-prima para outro processo, fechando o ciclo.

As redes de cooperação são uma estratégia de sobrevivência e competitividade para a pequena empresa. Mas como ela contribui para a sustentabilidade?

O primeiro ponto a se destacar é a necessidade da geração de inovações para a sustentabilidade, chamadas de ecoinovações. Cabe aqui louvar o papel da pequena indústria na geração de novas tecnologias, principalmente nos casos da criação de incubadoras de empresas e dos parques tecnológicos. Nesse sentido, são extremamente ilustrativos os casos do Vale do Silício, na Califórnia, e da Rota 128, no Massachusetts (EUA); do conjunto de pequenas firmas de tecnologia de ponta nos arredores de Lyon, na França; do desfiladeiro do silício, na Escócia; dos centros de tecnologia de ponta ao redor de Cambridge, na rodovia M4, que sai de Londres; dentre outros.

Pequenas empresas são especialmente eficazes na geração de inovações, pois devido às suas estruturas naturalmente enxutas e seus processos minimamente formalizados, elas estão permanentemente operando nos moldes de laboratórios, realizando experimentos, muitas vezes, por tentativas e erros. Nesse contexto, ocorre frequentemente o aprendizado por experiências (learning by doing).

Finalmente, uma grande virtude dos pequenos negócios cooperativos que precisa ser considerada quando pensamos em sustentabilidade é a importância das pequenas empresas para o desenvolvimento local, o experimentalismo, a concorrência, a diversidade e a democracia, especialmente quando se dá a elas oportunidade de alcançar a vanguarda tecnológica e desenvolver as técnicas contemporâneas de gestão e produção.

João Amato Neto é professor titular e chefe do Departamento de Engenharia de Produção da POLI-USP | http://joaoamato.blogspot.com.br/

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