Richard Branson

Richard Branson

Verde na Terra e em Marte
Por Marília Arantes

Do abandono da escola a dono de um império que o transformou no quinto homem mais rico do Reino Unido, Richard Branson continua a inovar e surpreender. Mas garante que, hoje, jamais inicia um negócio sem considerar seus impactos sobre o planeta


Ele inovou o mercado da música acreditando no movimento punk e percebeu no público – gente como ele – uma oportunidade para a venda de cópias baratas, por correspondência. Assim, a Virgin Records lançou bandas como os Sex Pistols, de Londres para o mundo. Há 40 anos, a visão de Richard Branson – nomeado Sir pela rainha da Inglaterra em 1999 – rende negócios variados. Atualmente, mais de 400 iniciativas compõem o Virgin Group. Só em transportes, o grupo administra trens, aviões, balões e – muito em breve – pretende realizar viagens a Marte.

“Empreendedorismo é transformar o que te motiva na vida em capital, só assim pode-se crescer e prosperar”, ensina Branson, cuja fortuna pessoal está estimada em 4,2 bilhões de dólares. Entretanto, nem tudo são flores em seu conglomerado. Como reflexo da crise no mercado fonográfico, algumas de suas famosas megastores estão à beira da falência – algo que ele afirma não temer. Afinal, “negócios próprios, como a Virgin, nascem movidos pela frustração”, diz. No entanto, Branson não mais arrisca um empreendimento sem se questionar o que ele pode agregar ao mundo.

Atualmente dedica-se, na maior parte do tempo, a iniciativas sem fins lucrativos. Com o músico Peter Gabriel, fundou o projeto The Elders, no qual líderes como Nelson Mandela, Gro Brundtland, Desmond Tutu, Kofi Annan, entre outros, sugerem soluções para os conflitos do planeta, sobretudo motivados pela proteção ao meio ambiente. Além disso, por meio do movimento Business as a Force for Good, promove uma espécie de solidariedade corporativa, oferecendo o conhecimento de suas próprias empresas para alavancar novas organizações, ajudando-as a enfrentar os desafios do mundo contemporâneo. “Nunca houve melhor época para explorarmos uma nova fronteira. Nela, não há limites entre trabalho e bons propósitos. Fazer o bem realmente é bom para os negócios”, acredita.

Avesso aos protocolos – abomina gravatas, por exemplo –, Branson renega o business as usual. “É hora de virar o capitalismo de ponta-cabeça, mudar valores, sair do foco puramente no lucro e se preocupar com as pessoas, comunidades e o planeta.”

Como liderança, Branson também passa longe da figura do chefe convencional. Incentiva funcionários, com liberdade e confiança, e gosta de reuni-los – para discutir assuntos sérios – em Necker Island, sua ilha no Caribe, onde uma diária custa, no mínimo, 42 mil dólares. Excentricidades à parte, Doc Yes – apelido dado pelos mais próximos – respondeu simpaticamente, por e-mail, a esta entrevista exclusiva à Ideia Sustentável. Thank you, good Sir!


Ideia Sustentável: Como a preocupação ambiental e a sustentabilidade começaram a fazer parte da sua vida e dos projetos da Virgin?

Richard Branson: Eu sempre fui deslumbrado pelas belezas naturais do mundo e tive sorte o suficiente para conhecer boa parte dele. Ao longo da minha vida, continuo aprendendo coisas maravilhosas sobre ambientes e espécies belíssimas. Assim, ver a natureza impactada pelas atividades humanas sempre me causa uma reação. Acho que isso está profundamente errado.

IS: Qual é a sua compreensão de sustentabilidade como conceito?

RB: Para mim, a definição de Gro Brundtland sobre desenvolvimento sustentável é ótima e continua representando um princípio básico. Ela defende que devemos balancear as necessidades de hoje com as do futuro. As pessoas debatem a semântica, novos conceitos, algumas formas de pensar entram e saem de moda. Mas, por fim, o futuro consistirá de negócios que forem hábeis a interagir de forma mais ampla com a sociedade, unindo economia e ambiente de forma simbiótica. Será preciso oferecer benefício e lucros, e, ao mesmo tempo, criar valor para seus empregados. Assim, melhorar os sistemas que dão apoio à vida no planeta em vez de somente retirar deles, explorando-os.

IS: O senhor considera que suas empresas estejam trilhando um caminho sustentável? Por quê?

RB: Cada empresa da Virgin tem embarcado em sua própria jornada, com o objetivo de tornar-se verdadeiramente positiva, de forma que seus negócios beneficiem a sociedade e a Terra. Mas existe, sim, um destino comum que almejamos atingir. Todas as nossas companhias aéreas, por exemplo, continuam sendo abastecidas por combustíveis fósseis. O caminho dos combustíveis renováveis tem se demonstrado complicado, mas estamos trabalhando nisso!

IS: Com sua atitude de vanguarda no mundo dos negócios, supostamente deve ter vivido muitos impasses em relação aos empresários business as usual. A seu ver, quais são os maiores desafios para a mudança de comportamento?

RB: A maior mudança tem de vir do que os acionistas de uma empresa colocam como valor. Se os gerentes de um negócio ganham seus bônus baseando-se apenas em lucro, e nada mais, então eles serão incentivados a adotar uma visão de curto prazo em vez de se preocuparem com o todo, com os impactos mais amplos de seus negócios. Muitos já estão mudando de estratégia por exigência de uma diretoria ou dos acionistas. Infelizmente, os que ocupam posições superiores são justamente aqueles que têm mais medo de “dar a cara a tapa”.

IS: Na sua opinião, o que pode fortalecer a chamada nova economia, transformando crise em oportunidade?

RB: Existe uma longa e diversa lista de negócios espalhados por aí que trabalham com uma proposta maior, mais positiva.

No site da Virgin Unite [a fundação sem fins lucrativos do Grupo Virgin], a iniciativa Screw Business as Usual [em português, algo como “às favas com os negócios tradicionais!”] lista muitas delas. Espero que todos os nossos negócios continuem a fazer parte deste ranking conforme forem evoluindo.

IS: Quais valores procura identificar e incentivar em seus funcionários?

RB: É difícil descrever um empregado da Virgin, mas você pode reconhecê-lo facilmente. Um gerente não deve ter medo de delegar e depositar confiança nos seus empregados; portanto, procure pessoas que trabalhem pesado. As pessoas que você emprega são os ativos mais valiosos do seu negócio. É preciso tratá-las de forma que elas se sintam como tal.

IS: Como seleciona prioridades na sua vida cotidiana?

RB: Cada vez mais emprego meu tempo realizando trabalhos sem fins de lucro, dividindo minhas experiências com uma nova geração de empreendedores “do bem” e dedicando atenção e dinheiro para boas causas por meio da Virgin Unite. Contudo, eu sempre arrumo tempo para os negócios do grupo, e me divirto completamente ao acompanhar e ver como eles estão indo.

IS: Atualmente, há um consenso sobre a ideia de que empresas mais sustentáveis, em sua maioria, têm líderes pessoalmente engajados à causa. Como caracterizaria a sua abordagem ou tipo de liderança?

RB: Socorro! Esta é uma questão direta e pessoal! Talvez fosse interessante olhar para os gestores dos negócios da Virgin, entre outras iniciativas, para saber como estou indo. Ou então seria melhor perguntar a eles diretamente! Em todo o caso, penso que as pessoas devem ser empregadas para fazer as coisas de forma criativa. Sem dúvida, essa liberdade de ação deve vir de cima.

IS: Como as companhias podem preparar novos líderes para a promoção de atividades cada vez mais inovadoras e sustentáveis?

RB: Muito frequentemente observo CEOs que ficam plenamente felizes em falar sobre retornos de investimentos e EBITDAs, mas mostram-se perturbados ou parecem desconfortáveis quando tratam de política, sociedade, economia global ou sobre o mundo natural. Nenhum negócio existe no isolamento. É claro que um bom líder deve ser astuto financeiramente. Mas também deve estar preparado e ter habilidade de olhar para fora de sua bolha de negócios e ver o que o resto do mundo está a fim de fazer.

IS: Quais são os principais investimentos “verdes” da Virgin atualmente? Existem tendências e áreas com maior potencial?

RB: Recentemente lançamos uma segunda rodada do Virgin Green Fund [fundo de investimentos voltado a empresas de energia renovável e eficiência de recursos], com foco nos mercados emergentes da Europa Central e do Leste. Também na Virgin Atlantic estamos fazendo coisas interessantes acerca dos biocombustíveis.

IS: Como o senhor enxerga o futuro de suas empresas, por exemplo, em 2050?

RB: Espero que elas estejam realizando muitas e diversas coisas sob o objetivo comum dos “negócios enquanto uma força para o bem”, assim como fazemos atualmente. E tenho esperanças de que nossas operações já tenham se estendido até o espaço! Também espero que, junto com o resto do mundo, tenhamos certamente colocado um fim às mudanças climáticas e às emissões de gases de efeito estufa – ou, em contrapartida, não haverá muito de futuro para falarmos nem se poderá fazer muito quando ele chegar.

IS: Neste mês de março, o senhor participará de uma conferência no Brasil – e não será sua primeira vez aqui. Que imagem faz do país? Acredita que temos potencial para liderar negócios sustentáveis?

RB: Eu sempre senti o Brasil como um lugar fantástico, vibrante. Uma nação que pensa “para frente”.  E também me parece que há uma boa percepção, no seu país, sobre a necessidade de se renegar o business as usual. Falo isso porque percebo que muitos aí lutam para proteger a majestosa floresta amazônica e todas as pessoas e espécies que ela contém.

IS: Quais são suas expectativas para a exploração de voos comerciais da Virgin para Marte? O senhor consideraria essa iniciativa como sustentável?

RB: Penso que esse tipo de empreendimento ainda representa uma trajetória meio fora da curva! No entanto, acredito que as viagens a Marte serão consideradas mais um feito fantástico para a ciência, a exploração do conhecimento e a humanidade.

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