Georg Kell

Georg Kell

Empresas brasileiras na pole position

Por Cláudia Piche

Dez anos atrás, Geog Kell esteve no Brasil para o lançamento mundial do Pacto Global, rede mundial de responsabilidade corporativa da ONU. Nos últimos meses, o diretor executivo da iniciativa tem retornado regularmente com a missão de mobilizar empresas para a Rio+20, que acontecerá em junho de 2012. Durante o Seminário Internacional Futuro Sustentável, em Belo Horizonte (MG), o economista alemão conversou com Ideia Sustentável – que também integrou o evento com um encontro regional da Plataforma Liderança Sustentável.

Na ocasião, Kell mostrou-se “realmente impressionado” com o envolvimento das lideranças empresariais brasileiras na introdução de diretrizes em sustentabilidade. “Raramente vi um nível tão grande de organização entre os setores público e privado com relação a essa questão”, diz.

Ideia Sustentável: Que contribuições espera que as organizações empresariais façam à Rio+20?

Georg Kell: Existem muitas formas das empresas cooperarem com a sustentabilidade.  Elas necessitam dar uma grande contribuição porque as atividades corporativas têm uma pegada ecológica enorme. Portanto, se as companhias tratam bem seus funcionários e respeitam as comunidades, se aspiram o melhor desempenho ambiental, elas verdadeiramente contribuem muito para a redução da pobreza, criando empregos e ajudando a promover uma melhor administração dos recursos naturais. Por outro lado, de acordo com a nossa própria avaliação, menos de 5% das corporações, em nível global, estão comprometidas com as questões de sustentabilidade. Minha esperança é que, por meio dos eventos preparatórios para a Rio +20, haja uma maior conscientização e a comunidade corporativa mundial torne-se mais responsável. Mas ainda há um longo caminho a seguir.

IS: Que avanços espera que possam surgir, nas empresas, a partir da Rio+20?

GK: Esperamos ter mais empresas envolvidas e aprimorar a pauta da sustentabilidade. Precisamos assegurar que esse movimento aconteça no Brasil e em nível global. A boa notícia é que o aspecto financeiro da sustentabilidade corporativa tem sido cada vez mais reconhecido. Então acredito que, com o passar dos anos, o envolvimento dos negócios será crescentemente estabelecido. Mas, certamente, precisaremos de todos os atores sociais. Os governos têm um papel a cumprir, que é servir a sociedade e os negócios. Os maiores problemas mundiais, hoje, têm a ver com a falha dos governos em oferecer uma boa estrutura de incentivos. A corrupção ainda é um grande problema em todo o mundo e, no final das contas, as classes mais pobres são as que mais sofrem com a degradação ambiental e a extração deliberada dos recursos naturais. Esse é um problema de longo prazo para os países. Então ainda há um longo caminho a ser seguido e precisamos da sustentabilidade corporativa, que é muito importante, mas também da cooperação dos governos e da sociedade civil.

IS: Como avalia o desempenho das empresas brasileiras nas questões ligadas à sustentabilidade com relação ao resto do mundo?

GK: É difícil generalizar, mas, em geral, as empresas brasileiras realmente têm mostrado uma inovação altamente criativa e entusiasmo para abraçar essas questões. Minha explicação para isso é muito simples. As corporações brasileiras aprenderam a se tornar globalmente competitivas e serem boas no que fazem; ao mesmo tempo, ainda possuem diversos desafios a ser enfrentados “dentro de casa”. O Brasil tem grandes contradições, mas creio que isso seja decorrente da extensão de um país que tem enormes recursos naturais e, ao mesmo tempo, cerca de 20 milhões de pessoas ainda vivendo em situação de pobreza. Isso representa um enorme incentivo, portanto, para as empresas contribuírem com as questões sociais e culturais. Por isso são tão inovadoras. Dentro do Pacto Global das Nações Unidas, as companhias brasileiras são muito fortes. Portanto, espero que, no ano que vem, durante a Rio +20, elas mostrem sua capacidade de contribuição. O Brasil está muito bem posicionado para desempenhar um papel de liderança mundial em sustentabilidade.

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