Economia verde em folha

Economia verde em folha

Por Marília Arantes

Ampliar escala, reduzir preços e conquistar a confiança do consumidor ainda são desafios a serem enfrentados pelas empresas na nova economia. Porém, quem semeia com seriedade já colhe os frutos maduros da economia verde. E, sim, eles dão lucro!


 

Na chamada economia verde, não existem mãos invisíveis. Tempo nem sempre é dinheiro nem o PIB representa a mais completa tradução da riqueza de uma nação. Transparência é a primeira regra de um jogo em que fins e meios justificam um resultado comum: minar o carbono, vilão do aquecimento global. Essa verdadeira revolução requer investimentos, mas só dinheiro não resolve. Os conceitos de valor e progresso, agora, adquirem outros sentidos. Todavia, iniciativas sustentáveis com vistas ao retorno financeiro podem significar um pontapé inicial.

Em janeiro deste ano, o economista britânico Sir Nicholas Stern – autor do famoso relatório que, em 2006, denunciou pela primeira vez os impactos da ação humana como responsáveis pelas mudanças climáticas – declarou, no Fórum Econômico Mundial em Davos (Suíça): “Subestimamos riscos e efeitos do aquecimento global. Precisamos encontrar formas sustentáveis para incentivar o crescimento econômico. A boa notícia é que acreditamos que elas existam”. Stern mirava uma elite que propaga a sustentabilidade como um novo mantra, mas nem sempre encontra tempo para meditar.

Uma coisa, no entanto, é certa: o setor privado, em peso, está interessado em participar dessa corrida, conforme se verificou na Rio+20. Ao inserir suas ações de sustentabilidade no core business, as empresas buscam, afinal, a sobrevivência no mercado. Para isso, no entanto, é preciso inovar. E atingir a inovação não é fácil.  Frente aos desafios – sobretudo financeiros – muitas empresas reivindicam suporte dos governos e da sociedade, a fim de superar seus impasses cotidianos. Entre eles, soluções para ampliar a escala de produtos mais sustentáveis e a conscientização dos consumidores de que, num primeiro momento, talvez seja preciso pagar mais por eles.

O desafio desta reportagem foi justamente mostrar que tem sido possível não apenas sobreviver como também crescer nessa nova economia. E muitas empresas já colhem os frutos maduros da economia verde. Assim como Sir Stern, elas enxergaram luz no fim do túnel – e, muito provavelmente, a lâmpada é LED!


Idealistas com os pés no chão

Em tempos de aquecimento global, o objetivo primordial das empresas – e também da humanidade – tem sido retornar a níveis aceitáveis as emissões de GEE (gases de efeito estufa) na atmosfera. Por meio de convenções internacionais, resumiu-se o problema ao dióxido de carbono (CO2).  No entanto, um acordo para precificá-lo como commodity ainda parece longe de se tornar realidade. Ao mesmo tempo em que, na Austrália, a taxa foi estabelecida em 23 dólares australianos por tonelada métrica para o emissor, no mercado global e em instituições como a Bolsa Europeia do Clima as negociações vêm perdendo força.

Divergências carbônicas à parte, a diversificação financeira em produtos “do bem” impregnou os mercados com um ambiente favorável ao surgimento de novos fundos de investimentos e carteiras sustentáveis. Primeiro indicador de desempenho corporativo nessa linha, o Dow Jones Sustainability Index, lançado em 1999 na Bolsa de Nova Iorque, segue cada vez mais firme como referência para investidores do mundo todo. Assim como os Ethical Indices FTSE-GOOD, da Bolsa de Valores de Londres. Afinal, desde a crise financeira mundial, em 2008, a antiga relação entre ética e confiança tem sido restabelecida por interessados avessos à economia do tipo “cassino”, na qual apostavam-se todas as fichas no lucro a qualquer preço.

Outro indicativo de que os investidores estão valorizando a chamada nova economia é o sucesso do pacto pelos Princípios para Investimentos Responsáveis (PRI), incentivado desde 2003 pela Organização das Nações Unidas (ONU), que conta atualmente com 1.175 signatários em todo o mundo – entre investidores institucionais, gestores de investimentos e provedores de serviços. Juntos, eles administram um total de cerca de 30 trilhões de dólares em ativos de investimentos sustentáveis.

No Brasil, as ações de empresas listadas no ISE (Índice de Sustentabilidade Empresarial) da BM&FBovespa valorizaram-se 20,5% em 2012, enquanto o Ibovespa – índice tradicional que reúne 80% das empresas com maior liquidez da Bolsa de São Paulo – subiu 7,4%. Comparativamente, a valorização acumulada do ISE, de 2005 (ano inaugural) a 2013, foi de 143,28%. No mesmo período, o Ibovespa obteve alta de 79,92%.

Integrar o ICO2 (Índice Carbono Eficiente), outra iniciativa da Bolsa de São Paulo na qual as ações de 30 empresas subiram 16,3% em 2012, também significa, literalmente, estar na vitrine da nova economia, já que transparência tornou-se critério básico.

Ajudar as empresas nessa tarefa, aliás, tem sido o desafio do Carbon Disclosure Project (CDP), um banco de dados de inventários empresariais que também auxilia investidores atentos à sustentabilidade. “Quantificar impactos para gerenciá-los é o primeiro passo para mapear riscos e oportunidades”, afirma Fernando Figueiredo, diretor da organização no Brasil. “O grande desafio do CDP é induzir empresários e investidores a pensar. Nosso objetivo é indicar oportunidades de financiamentos; estes sim, mensuráveis. E pode-se ganhar com eles”, garante.

Os números mostram que sim. Uma pesquisa conduzida pela coordenação internacional do CDP, em Londres, em parceria com a Accenture, no ano passado, ouviu 2.415 empresas (sendo 52 grandes companhias compradoras e as demais integrantes de suas cadeias de fornecimento). Segundo o estudo, respectivamente, 92% e 38% delas já assumem metas para diminuir emissões. E, para 73%, o carbono é um direcionador de investimentos até mais relevante do que os próprios marcos regulatórios.

Investir para inovar

Uma das 15 empresas brasileiras a integrar o Sustainability Emerging Markets Index, novo índice recém-lançado pela Dow Jones exclusivamente para países emergentes, a Braskem prova de que estar na vitrine das carteiras sustentáveis impulsiona o círculo virtuoso do desenvolvimento. “A empresa só ganha ao adotar indicadores como os do ICO2 ou ISE-Bovespa. Carteiras diferenciadas refletem uma imagem positiva aos investidores, as ações flutuam menos e valorizam-se mais no tempo. Além disso, o processo de seleção fica mais criterioso a cada ano, o que tanto serve para conquistarmos reputação como aferirmos se estamos no caminho certo”, diz Jorge Soto, diretor de Desenvolvimento Sustentável da Braskem.

No início dos anos 2000, década do boom sucroalcooleiro, a empresa desenvolveu o polietileno verde, um plástico derivado do etanol de cana de açúcar – hoje líder no mercado internacional na categoria dos biopolímeros produzidos a partir de fontes renováveis. E a empresa continua apostando na inovação para diversificar seus produtos. “Investimos 55 milhões de reais, só em 2012. Com a empresa Pacifil, criamos os ‘silos-bolsa’, espécie de tubos de polietileno para armazenagem de grãos, fertilizantes e subprodutos da cadeia agroindustrial, que diminuem o desperdício e barateiam o processo agrícola. Em breve, lançaremos o polipropileno verde (segundo tipo de plástico mais utilizado no mundo, depois do polietileno. Trata-se de uma resina resistente a impactos, com aplicações como o revestimento de autopeças e eletrodomésticos)”, revela Soto.

Segundo ele, os produtos verdes ainda estão longe de poder competir com a indústria tradicional: em virtude da pequena escala, tornam-se naturalmente mais caros

Mesmo assim, a Braskem mantém a meta de alcançar a liderança da química sustentável, até 2020. “No início, a transição de escala é muito cara: precisam-se amortizar custos com tecnologia, enquanto testam-se os produtos no mercado.

No entanto, acredito que os preços altos serão temporários, logo estarão equivalentes aos da velha economia. Felizmente, existem clientes dispostos a pagar pela contribuição à sustentabilidade. No entanto, temos uma carência de incentivos dos governos para produtos inovadores e instalações mais sustentáveis, como seria o correto”, desabafa.

Como se diz popularmente, no entanto, o bom é inimigo do ótimo. E, em se tratando de sustentabilidade, esperar pelo ideal pode custar ainda mais caro ao negócio. “Com a crescente saturação e alta competitividade dos mercados, será difícil manter estratégias tradicionais. Ir além significa vender soluções para problemas sociais e ambientais. Seria excelente contar com incentivos de governos. Porém, os empreendimentos com capacidade de ‘destruição criativa’ do antigo modelo de produção certamente são aqueles que irão liderar nas próximas décadas”, disse Stuart Hart (uma das maiores autoridades mundiais sobre implicações do ambiente e da pobreza para a estratégia de negócios, Hart, juntamente com C.K. Prahalad, é considerado um dos pais da teoria sobre a riqueza na base da pirâmide), em depoimento exclusivo à Ideia Sustentável.

Menos pode ser mais


Nos Estados Unidos, o Congresso Nacional incentiva o crédito para o desenvolvimento junto às instituições privadas. Por meio dos Community Development Institutions Fund (CDFIs), fomentam-se startups sobre os três pilares da sustentabilidade – econômico, social e ambiental. No Brasil, quem atende a essa demanda é o BNDES, maior banco de desenvolvimento social do mundo em volume de investimentos.

As instituições financeiras privadas também já entenderam que apoiar a sustentabilidade das empresas tornou-se um vasto campo de oportunidades. A instabilidade dos anos de crise serviu para que os bancos descobrissem que se por um lado passaram a ganhar menos por operação, com desaceleração dos rendimentos, por outro podem lucrar com um maior número de empréstimos a pessoas físicas ou jurídicas da categoria dos “bons pagadores”.

Nesse sentido, destacam-se os microfinaciamentos, principalmente quando associados a políticas públicas ou empresas intermediárias. O holandês Rabobank, por exemplo, surgiu de cooperativas para crédito agrícola há 110 anos. Hoje, está presente em 47 países, em todos os continentes. No Brasil, a instituição dá ênfase ao mercado de pequenas e médias empresas, aconselhando a produção sustentável e demonstrando boas práticas.

O Santander é outro banco que tem se destacado no Brasil por suas práticas sustentáveis, dentre as quais, a composição de carteiras de alguns fundos de renda fixa. A rentabilidade do Fundo Ethical, de 2001, por exemplo, já ultrapassa a do Ibovespa. Já o serviço Santander Asset Management orienta investimentos segundo os PRI. Além disso, por meio de seu programa de microcrédito, promove a inclusão social e financeira, oferecendo capital de giro aos microempreendedores. “Em 2011, nossas linhas somaram 1,2 bilhão de reais para financiar a eficiência no consumo de água, energia, tratamento de resíduos e construção de pequenas e médias empresas. E somos o banco que mais investe em energia eólica no Brasil”, orgulha-se Carlos Nomoto, superintendente executivo de Desenvolvimento Sustentável do Santander.

Segundo Nomoto, a noção de sustentabilidade, hoje, abarca custos operacionais e riscos. “Não precisamos mais ficar convencendo as empresas. Os clientes prestam atenção, principalmente nos casos negativos. Catástrofes climáticas, por exemplo, já afetam os prêmios das seguradoras. Assim, junto à valoração de ativos ambientais, avançam mecanismos quantitativos para evoluirmos. É preciso medir para gerenciar”, afirma.

A legislação ambiental, portanto, é outro fator que deve influenciar investimentos sustentáveis, segundo Nomoto. “Sustentabilidade é inovação, durabilidade. O governo também é indutor da mudança. Num futuro próximo, acredito, a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) promoverá uma transformação em cadeia, na qual teremos oportunidade de financiarmos a adaptação dos clientes. Nosso trabalho é satisfazê-los. E, para eles, isso será uma necessidade.”

Sol e vento semeando lucros

Em 2010, a Eletrobrás, antiga companhia estatal energética brasileira, passou a ter capital aberto. Foco de investimentos estrangeiros no mercado, a empresa está listada no Dow Jones Sustainability Index World. Entre as 63 companhias concessionárias no serviço público de distribuição de energia elétrica, sob coordenação da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), a Eletrobrás administra boa parte do grid de transmissão nos estados do Amazonas, Piauí, Alagoas, Roraima, Acre e Rondônia. Mas atrasos na entrega de infraestutura afetam a confiabilidade do país.

Segundo Fernando Brasileiro, diretor da Cleantech Investments, consultoria em energias limpas baseada em Londres, “existem parques eólicos prontos, aguardando serem ‘ligados na tomada’”. A Cleantech fornece informações estratégicas sobre o mercado de energia solar, eólica, de marés, ondas, água, veículos, fiocell (combustível de células), entre outras.

Conforme Brasileiro, mesmo com as dificuldades, “a hora do Brasil chegou. Segundo a Associação Brasileira de Energia Eólica, até 2020 o Brasil produzirá cerca de 5 gigawatts em energia eólica.  Ainda há espaço para o mercado de pequenas turbinas, para atender postos de gasolina, por exemplo”, acrescenta.

Segundo Brasileiro, a nova tendência será cada um produzir sua própria energia. “Agora, depois de aprovada a lei sobre a geração distribuída, em 2012, a ‘bola da vez’ será a energia solar, com maior potencial de microgeração. Todavia, ainda não há leilões no Brasil nem se produzem painéis solares. Temos três ou quatro projetos de escala, ainda em experimentação. Intermediamos investidores e fabricantes. E já existe grande interesse internacional em se instalar no Brasil”, afirma.

Para o consultor, o atual protecionismo brasileiro nesse mercado preserva a indústria nacional. “Os estrangeiros esbarram na exigência do BNDES de que 60% dos componentes tenham certificado de origem nacional para liberar financiamentos à fabricação de pás, turbinas e torres eólicas. Só os chineses vieram com financiamentos próprios, porque, além do Brasil, ainda miram exportar para a África.” Ainda de acordo com Brasileiro, outra oportunidade de lucro com as energias limpas são os grandes eventos esportivos que acontecerão no Brasil. “Estádios com painéis solares integrarão a geração distribuída. Em Salvador, a Neoenergia implementou o sistema junto à espanhola Iberdrola, com apoio da prefeitura. Só as reformas de estádios nos diversos estados do país irão garantir a autogeração e ainda compartilhar o excedente na rede.”

Consumo eficiente realimenta o negócio


Economizar energia, sob todos os aspectos, é bom negócio. Para Tânia Cosentino, vice-presidente sênior da Schneider Electric para a América do Sul, “conscientização empresarial não é custo, mas investimento. Sistemas inteligentes se pagam em três anos, na média”, afirma. “Processos de automação costumam diminuir o consumo em 30%. Eficiência energética é a base do pensamento verde. Quanto mais racionarmos o consumo, mais ganharemos em produção. A energia mais barata é aquela que você não gera. Atualmente, a cada três partes de energia produzida, consumimos efetivamente apenas uma”, alerta.

Por isso, a empresa apostou na gestão de eficiência como princípio de seu negócio.  “A automação de linhas de controle industrial oferece recursos para reduzir perdas energéticas e da produção, diminuir custos operacionais e gastos desnecessários. Essa expertise custa. Mas os produtos são funcionais e interconectados. Nosso diferencial está na aplicação, pois velocidade, hoje, é tudo! Nossos clientes – grandes indústrias e grupos empresariais – acreditam nesse investimento, porque há um retorno do capital. Além disso, os ganhos com a imagem são significativos. Assim, acredito que os mais avançados devam ajudar a cadeia de fornecedores e suprimentos a evoluir”, avalia Tânia. Um círculo virtuoso que combina lucros com sustentabilidade.

Outra crença da Schneider é a de que o seu negócio é capaz de promover a inclusão social e, de quebra, realimentar a própria empresa. Além de sofisticados projetos para smartcities, a companhia gera energia solar em regiões da Amazônia onde o grid de transmissão não chega. E também investe na educação profissional.  “A economia cresce, mas há um déficit de mão de obra qualificada no mercado de trabalho. Por isso, junto ao SENAI investimos na formação de 6 mil jovens técnicos em eletricidade básica. Certamente, eletricistas formados por nós preferirão os produtos da Schneider.”

De fato, ao contrário do que se imaginava, a economia verde vem promovendo a geração de empregos. Segundo o mais recente relatório da Organização Internacional do Trabalho, em 2010 foram criados, só no Brasil, 2,9 milhões de postos de trabalho em áreas dedicadas à redução dos danos ambientais.

O que prova que a sustentabilidade, literalmente, dá mais trabalho!

Fazer bem feito evita prejuízo

Com duas plantas de exploração no Brasil, ambas no estado de Goiás, a Unidade de Negócios Níquel da Anglo American atua no Brasil desde 1982. A multinacional é pioneira e líder global na produção de platina e diamantes.Os esforços socioambientais da companhia renderam diversas premiações. Desde 2008, a revista Exame a nomeia entre as 20 empresas-?modelo em sustentabilidade no Brasil. Em 2012, foi eleita pela mesma publicação como a empresa do ano.

Segundo Juliana Rehfeld, gerente de Desenvolvimento Sustentável da Unidade Níquel, um estigma permanece na mineração. “Os impactos diminuíram, mas o público ainda enxerga essa atividade como danosa. Por isso, desde a primeira convenção mundial sobre meio ambiente, em Estocolmo (1972), o setor adotou práticas sustentáveis antes de outras indústrias”, explica. Para Juliana, a gestão da empresa integra meio ambiente, saúde, segurança e responsabilidade social. Hoje, entende-se que o retorno à população vale a pena. “Não existe desenvolvimento com pobreza ou dano ambiental”, constata.

A política de sustentabilidade da Anglo-Níquel foca investimentos no entorno das minas, em parcerias com ONGs e instituições locais. “Diferente de siderúrgicas ou automobilísticas, mineradoras sabem que irão embora. Isso leva 30 anos, em média. Então, evitamos tornar as populações dependentes da empresa”, comenta.

Para Juliana, a presença em 60 países levou a um aperfeiçoamento nos padrões de atuação. “No Brasil, participamos das atualizações nas câmaras temáticas sobre as leis ambientais e queremos ser fiscalizados! O lema é fazer direito desde a primeira vez. Prevenir custa menos do que remediar. Evitam-se multas ambientais e, sobretudo, danos à reputação e imagem. Nesse sentido, a comunicação também é estratégica para mostrar quem somos e como queremos ser vistos. E, claramente, tudo isso se paga.”

Encontrar valores de sustentabilidade no setor extrativista é, sem dúvida, um desafio. “Definir indicadores de eficácia no que fazemos não é simples. Podemos medir estatísticas de empregos, não relações causa-efeito. Porém, consertar relações e projetos certamente sai mais caro do que começá-los corretamente. Assim, também medimos os nossos ganhos”, diz Juliana.

Os indicadores financeiros comprovam que a boa governança – e vizinhança – dão resultado, inferindo alta no valor de ações e fundos e atraindo investimentos no longo prazo. “Trabalho bem feito custa! Mas a contrapartida resulta em valorização e procura dos investidores”, garante.

Indústria consciente dos seus limites

Fabricantes de eletrodomésticos e automóveis representam os maiores consumidores de minério de ferro no mundo. Na balança comercial brasileira, de 2011 para 2012, as exportações da matéria-prima aumentaram de 29 para quase 42 milhões de toneladas – 16,3% de toda a exportação nacional. O desgaste dos recursos naturais do planeta, no entanto, obriga resignificar o valor do capital ambiental. E as empresas que entenderam isso primeiro, hoje ocupam a liderança em seus setores. É o caso da Whirlpool, cujos desafios ultrapassam os lucros financeiros. “É postura da empresa criar produtos e processos mais sustentáveis e viáveis economicamente. Porém, ser ético e responsável não é barato. Ainda não podemos repassar totalmente os custos para o consumidor”, diz Vanderlei Niehues, gerente geral de Sustentabilidade da Whirlpool.

A empresa acredita que responsabilidade significa pensar no médio e longo prazos. Por isso, adotou o programa DfE (Design for the Environment), desenvolvido pela Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos, objetivando visualizar o ciclo de vida dos produtos e desenhar estratégias para minimizar impactos ambientais. Além disso, a reutilização de efluentes e captação de água da chuva, por exemplo, levaram a uma economia significativa no consumo, afetando os custos. Na fábrica de lavadoras, economizam-se, em média, 66 milhões de litros de água por ano em testes. “Nosso desafio é criar soluções inovadoras, que ao mesmo tempo gerem valor ao acionista e ofereçam benefícios ao consumidor. A empresa que não conseguir produtos e processos melhores, a custos viáveis, ficará para trás. Mais do que responsabilidade, sustentabilidade é pilar de negócio”, afirma Niehues.

No caso da Whirlpool, investir em sustentabilidade melhora a imagem e aceitação da marca. “A maioria dos brasileiros não só prefere produtos sustentáveis como trabalhar em empresas responsáveis. Queremos a preferência do consumidor e atrair talentos da nova geração, mais consciente. Assim, criamos uma cultura de sustentabilidade entre os funcionários, que são quem de fato atua nos processos da empresa”, conclui.

Quem planta colhe!


A crescente conscientização em relação ao consumo saudável e ao comércio justo tem ampliado a popularidade e diversificação de produtos voltados a estilos de vida mais naturais. E muitos empreendedores aproveitam essa onda para transformar simplicidade em ousadia.

Com uma paciência literalmente messiânica – a empresa nasceu para atender os adeptos dessa igreja no Brasil -, a Korin investiu durante 40 anos, preparando o terreno para a produção de hortifrutigranjeiros naturais. Hoje, é referência no assunto. “Até pouco tempo atrás, trabalhamos no prejuízo; as vendas não cobriam os gastos. Porém, com o aumento da escala, ainda que lento, conseguimos chegar a custos e preços viáveis”, revela Edson Shiguemoto, gerente comercial e financeiro da empresa.

Foi preciso perseverar, no entanto, para harmonizar sustentabilidade e ganhos financeiros. Para se ter uma ideia, a empresa líder no abastecimento de frangos no Brasil abate 5 milhões de aves por dia. Na Korin, são apenas 16 mil. A meta é chegar aos 60 mil abatimentos diários para tornar o produto competitivo. No entanto, com a recomendação de médicos e nutricionistas – já que a Korin não utiliza agrotóxicos nem antibióticos nos produtos -, o negócio cresce, sem publicidade.  “O público precisa valorizar para pagar. Porém, trabalhamos sempre para reduzir custos e atingir mais pessoas”, diz Shiguemoto.

Para isso, a empresa tem investido na diversificação de produtos e pontos de venda. No próximo mês de abril, deve lançar a carne de boi 100% natural. Além disso, inaugurou três franquias, recentemente, adotando um modelo em que não há cobrança de royalties. O objetivo é conquistar novos canais de distribuição para difundir a marca. “Muitos vendem a ideia de que sustentabilidade dá dinheiro. Mas o dinheiro é consequência de alguma coisa. E é natural que ele venha de coisas boas. Aqui, o que se planta dá. E certamente se traduzirá em lucros. Talvez demore. No entanto, serão duradouros e só poderão melhorar com o tempo”, ensina.

Outra promissora fonte de renda na alimentação sustentável é a piscicultura ou aquicultura. Afinal, embora a Organização Mundial de Saúde (OMS) recomende o consumo de 12 Kg de peixe ao ano, por habitante, o brasileiro consome, em média, apenas 9 Kg. Conquistar esse mercado, no entanto, exige fôlego.

“A escala ainda é um problema do negócio. Nossas espécies disputam mercado com substitutos como atum e salmão, geralmente importados do Chile”, diz Pedro Furlan, diretor-presidente da Nativ, indústria produtora de espécies nativas da Amazônia, como tambaqui, pintado amazônico e tilápia.

Considerada mais ecológica do que a pesca, a criação de peixes já representa 45% do consumo mundial. “Nossa produção é totalmente sustentável. Cultivar em habitat natural evita a correção genética”, garante Furlan. Com isso, a empresa vem conquistando mercados na Suíça, Alemanha, Portugal e Espanha. “Recentemente, nos aliamos a uma companhia de pesca do Alasca, nos Estados Unidos. Pretendemos expandir cada vez mais para o mercado internacional”, revela.

Outra estratégia da empresa para ganhar escala tem sido a diversificação para produtos industrializados processados, como iscas de peixes ou fishburgers – congelados e mais práticos. Com isso, a Nativ tornou-se fornecedora de 19 das 20 maiores redes de varejo nacionais. Segundo Furlan, o governo brasileiro também tem demonstrado esforços pelo crescimento do setor. “Em 2007, regulamentou questões como o congelamento dos produtos. Podemos nos tornar grandes players globais em aquicultura. Afinal, 12% da água doce do mundo estão no Brasil e ainda produzimos grãos para rações.”

Pequenos também têm vez

Em 2008, a engenheira florestal Maira Campora decidiu investir numa tecnologia importada da Suécia para a lavagem de roupas. O processo wet cleaning utiliza máquinas com sensores de precisão que proporcionam um consumo mínimo de água e energia. E a Lavanda Green não parou por aí. Uma ampla e arejada sala com ventilação natural evita o uso de secadoras. Os detergentes – biodegradáveis – não fazem espuma nem são ácidos ou alcalinos. Os cabides são reutilizados, e a entrega, feita apenas na vizinhança, a pé ou de bicicleta, elimina o uso do carro.

O grande pulo do gato, no entanto, reside no fato de que o sistema também pode substituir a lavagem a seco, apoiada no uso do percloroetileno. Esse solvente químico, além de poluente, pode ser cancerígeno. “Apesar de proibido em muitos países, ele ainda é comercializado no Brasil. Por isso muitas franquias instalaram-se aqui”, observa Maira.

A proprietária da Lavanda Green garante que todo esse cuidado não custa mais para o consumidor. “Os produtos utilizados na lavagem são caros. Mas a economia de água e eletricidade compensa”, diz Maira que, no início, imaginava conquistar apenas uma seleta clientela de “ecologistas de carteirinha”. Hoje, ela comemora: “A procura ocorre mais pelo preço e o resultado final, que são imbatíveis!”

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