A carteira escolar da liderança sustentável

A carteira escolar da liderança sustentável

Por Cláudia Piche

Diz o senso comum que as escolas de negócios foram criadas por uma demanda das empresas, que necessitavam formar profissionais capazes de entender profundamente as especificidades de seus negócios e liderar pessoas e processos nas suas corporações.

Buscava-se, portanto, uma formação mais especializada e pragmática, para além da graduação um tanto generalista nas grandes áreas do conhecimento até então oferecida pelas universidades.

Uma formação voltada, sobretudo, ao aperfeiçoamento da visão de gestão e negócios dos executivos. Isso foi nos idos de 1970, quando surgiram, nos Estados Unidos, os chamados MBAs (Master Business Administration), uma espécie de pós-graduação, porém menos acadêmica e mais profissional.

Um mergulho mais profundo no tema prova, entretanto, que as escolas de negócios são muito mais antigas do que supõe a vã filosofia.

Foi durante sua permanência em Londres, entre 1738 e 1743, que o nobre Marquês de Pombal, então embaixador de Portugal na Inglaterra, enxergou a possibilidade de intensificar a política mercantilista entre os dois países. E percebeu também que, para isso, o governo precisaria intervir e formar comerciantes preparados para a missão, já que as escolas privadas, à época, não vinham dando conta dessa tarefa.

Depois de colecionar uma série de livros sobre comércio, frequentar aulas e conferências e estabelecer uma rede de contatos com “conhecedores das matérias econômicas e educacionais”, Pombal escreveu ao primeiro-ministro Cardeal da Mota propondo uma grade curricular para o que ficou conhecido na História como Aula do Comércio.

Estudos da professora Lúcia Lima Rodrigues, associada da Universidade do Minho, em Portugal, apontam “uma formalidade da estrutura do curso surpreendente e não usual para a época ou noutros países europeus”.  E deixam clara a intenção de Pombal de forjar os novos líderes da atividade comercial. Nascia assim, segundo a pesquisadora, a primeira escola de negócios do mundo, em 1759. E pública!

Diante dessa abordagem histórica, conclui-se que as escolas de negócios surgiram com a vocação de preparar lideranças para enfrentar os dilemas não apenas do presente, mas sobretudo do porvir. E antecipar tendências, fosse no século XVII ou nos anos 1970, certamente era uma tarefa bem mais previsível do que hoje.

Em tempos de enfrentamento das mudanças climáticas, diminuição de recursos naturais e cobranças cada vez mais conscientes da sociedade civil e do consumidor, a pergunta que não quer calar é: como formar lideranças para encarar desafios que precisam subverter a ordem mundial? E, decorrente dessa: as escolas de negócios estão dando conta dessa missão primordial?

O professor Heiko Spitzeck, coordenador técnico do curso de Gestão Responsável para Sustentabilidade e responsável por transversalizar o tema na Fundação D. Cabral, classifica as escolas de negócios em três estágios de maturidade. A primeira, diz ele, é a das “defensivas ou “ignorantes frente ao tema”, que não querem mudar nada e continuam a apostar na educação a que sempre estiveram acostumadas.

O segundo estágio seria o daquelas que entendem que precisam oferecer cursos sobre sustentabilidade e ética de negócios, mas o fazem como algo adicional, sobretudo em função da pressão da crise financeira ou da necessidade de alguns graduandos envolvidos em casos de escândalo ou de fraude financeira em suas organizações.

Por fim, aquelas escolas que veem sustentabilidade como algo estratégico, notam que o mercado está demandando esse tema e começam a oferecê-lo em cursos específicos, mas também buscando tratar a temática de maneira mais transversal. “Essas não chegam a 10% das escolas no mundo”, arrisca Spitzeck, alemão que chegou ao Brasil há dois anos e trabalhou em universidades na Alemanha, Suíça, Espanha, Inglaterra e Estados Unidos.

O consultor e professor Stuart Hart – uma das maiores autoridades mundiais em implicações do meio ambiente e da pobreza nas estratégias de negócio – parece compartilhar dessa visão. Para ele, assim como nas empresas, a sustentabilidade ainda encontra-se “pendurada para do lado de fora da estratégia”, em especial nas escolas de negócio norte-americanas.

“Mas não estou surpreso com isso. Certamente estamos num estado diferente do que há 20 anos, quando realmente comecei a tentar conduzir essa questão. Temos um aspecto positivo no sentido de o conceito trazer materiais para as escolas de negócios. Agora não há hostilidade, os braços estão abertos porque percebe-se amplamente que: 1) é preciso fazer algo; 2) isso também atrai bons estudantes. Minha preocupação é simplesmente que ainda há uma separação do tema do centro, da estratégia educacional. O próximo grande passo será a sustentabilidade global realmente tornar-se o foco central do que é fazer negócios, para o que eles servem. E acho que isso virá, finalmente, porque não há realmente outra escolha”, disse Hart em entrevista exclusiva à Ideia Sustentável.

CONTEÚDOS RELACIONADOS:
– Os dois lados da moeda acadêmica

 

Níveis de liderança

Se as escolas de negócios engatinham na transversalização do tema – e essas são pouquíssimas – e a imensa maioria ainda mantém uma abordagem instrumental, formando alunos para o “hard core business, 95% deles com visão de maximização de lucro para os acionistas”, nas palavras de Spitzeck, da D. Cabral, não é de difícil imaginar que tipo de liderança emerge das escolas de negócios.

Mas, como em sustentabilidade, dois mais dois nunca é igual a quatro, existem ilhas de esperança nesse mar. E formá-las também ainda nas hierarquias não tão decisórias, como as de gerentes e coordenadores de áreas corporativas, por exemplo, pode representar um bom começo.

“Muitas vezes ouvimos altos executivos interessados em implementar processos mais sustentáveis em suas corporações queixando-se de não encontrar eco em suas equipes”, diz Reinaldo Bulgarelli, consultor e coordenador dos cursos de Sustentabilidade, Responsabilidade Social Empresarial e Terceiro Setor do Programa de Educação Continuada (PEC) da Fundação Getúlio Vargas em São Paulo. Um cenário, no entanto, que tem mudado. Profissionais de Finanças, Recursos Humanos ou Marketing, as chamadas áreas-meio das empresas, cada vez mais buscam esse tipo de formação.

Em geral, pessoas que carregam uma característica comum. “Em 98% dos alunos que procuram formação em sustentabilidade, o olho brilha. São profissionais que sabem empregar ferramentas de gestão, mas não têm a visão estratégica do negócio, de integrar processos. Muitas vezes, há até uma certa ingenuidade, mas isso não é ruim, pois vão aprender de um jeito novo. O importante é que é gente inconformada. E lideranças são justamente pessoas que não se conformam com a realidade”, observa Bulgarelli.

Outro traço identificado por Cristina Fedato, coordenadora pedagógica do curso de Pós-Graduação em Gestão Socioambiental para Sustentabilidade da Fundação Instituto de Administração (FIA) -, é que a faixa etária dos alunos de pós vem caindo. E muitos procuram sobretudo por motivação pessoal, não necessariamente por apoio das empresas. Um cenário que se torna ainda mais evidente quando se fala nas pequenas e micros.

“As PMEs representam 60% dos postos de trabalho no país. E elas estão despertando para a necessidade de implantar processos de sustentabilidade, enxergando imensas oportunidades, por um lado, e enfrentando as exigências  da cadeia de fornecimento das grandes empresas, por outro”, diz Cristina. Nesses casos, educar lideranças significa lidar diretamente com os donos do negócio. “É preciso que se dê uma atenção especial a esses líderes, que não têm acesso às escolas de negócios. Temos de nos aproximar desse público, dar um jeito dessa fórmula fechar”, completa.

Conteúdos e disciplinas

Instrumentalizar as jovens lideranças para liderar processos de sustentabilidade nas empresas requer muito mais do que uma formação técnica e específica.

Isso é consenso entre professores das principais escolas de negócios do país, ouvidas para esta reportagem.

Para Cristina Fedato, não basta abordar apenas ferramentas de gestão e estratégia.

“É importante oferecer uma visão de cenário social, político, econômico e ambiental, tanto global quanto brasileiro, para que o aluno desenvolva uma visão analítica própria, que justifique um novo posicionamento estratégico nas empresas.”

Além disso, diz a coordenadora da FIA, é fundamental, ainda, que o curso trabalhe uma sensibilização individual, “porque é o convencimento pessoal que prepara as pessoas para utilizar as ferramentas e acreditar realmente no movimento da sustentabilidade”, diz.

Spitzeck concorda que questões estratégicas e de macroambiente são conteúdos indispensáveis. Mudanças climáticas, gestão da água e de emissões, por exemplo, precisam adquirir concretude para o aluno. Depois, devem ser desdobradas em cada área do negócio. “Um profissional de RH precisa saber como trabalhar essas variáveis na capacitação dos demais profissionais e cada setor deve desenvolver seus indicadores”, exemplifica.

O coordenador da D. Cabral acrescenta, ainda, uma disciplina que considera fundamental: o relacionamento com stakeholders. “Muitas vezes perde-se a oportunidade de interação com outros grupos de interesse, que são essenciais para uma gestão integrada”, diz. Além disso, os conteúdos devem contemplar a inovação e a mudança.

“Gestão de mudança organizacional e cultural é absolutamente necessária para a sustentabilidade acontecer. E isso também tem muito a ver com engajamento de stakeholders internos”, completa. Essa é também a opinião de Bulgarelli. Os cursos coordenados por ele na FGV oferecem uma disciplina chamada Transformação Organizacional, para “adaptação da cultura sob a ótica da ética da sustentabilidade e da responsabilidade social empresarial”.

Metodologias

Conteúdos são, sem dúvida, importantes na formação de lideranças para o futuro. Mas a forma certamente pode fazer toda a diferença.  E se o futuro ainda representa “uma visão de mundo por se fazer, uma realidade para se construir”, o diálogo – qualificado e de alto nível – surge como uma obrigação nas escolas de negócios, acredita Bulgarelli. “A sustentabilidade nasce do diálogo com todas as partes. Portanto, uma metodologia na qual o diálogo esteja presente é indispensável”.

Nessa perspectiva, a maioria das escolas admite combinar, em sua metodologia, uma carga de conteúdos teóricos sempre associada às vivências práticas. A Fundação D. Cabral adota uma abordagem de educação experimental, proporcionando ao aluno visitas a projetos em favelas, por exemplo, nos quais se consideram desde as características financeiras, sociais, ambientais e culturais evidenciando o chamado “ganha-ganha” para todos os atores envolvidos, “com todas as cores e cheiros característicos da favela, coisas às quais os executivos não estão acostumados a lidar”.

Além disso, explica Heiko Spitzeck, os alunos são desafiados a aplicar o que aprenderam na atuação de negócio de suas empresas. “Trata-se de uma combinação forte: identificar desafios estratégicos, ver na realidade como fazer esse ganha-ganha funcionar e desafiar as pessoas a colocar o aprendizado na  prática e nos informar como estão indo. Se precisar de ajuda, estaremos aqui.”

Docentes

A disponibilidade para captar os saberes dos alunos e, rapidamente, incorporá-los à conversa em sala de aula é uma habilidade cada vez mais demandada em relação aos professores das escolas de negócios. Enxergar o aluno como o copo vazio no qual o mestre vai derramar o conhecimento decididamente está fora de questão quando se fala em formação de lideranças para a sustentabilidade.

Paradoxalmente, a estrutura escolar “ainda é velha e burocrática”, diz Bulgarelli, “o professor continua à frente da sala de aula”. O que não precisa ser visto necessariamente como um problema, afirma Carlos Honorato, coordenador acadêmico do MBA Executivo Internacional da FIA.

“Uma das poucas coisas que ainda não se transformaram na história da humanidade é a sala de aula, com um professor na frente falando e os alunos escutando.” O que mudou, diz Honorato, foram as capacidades e habilidades dos professores que, diante das facilidades de obtenção de informação por parte dos alunos graças às novas tecnologias, são amplamente questionados em sala de aula.

“O valor do professor, hoje, está na capacidade que ele tem de conectar os alunos com a importância daquilo que é feito. Isso não há tecnologia que faça. O professor é o cara que tem de influir significado nos alunos. À medida que eles, sobretudo os mais jovens, percebem o sentido daquilo que estão fazendo, consegue-se uma boa atuação e uma produtividade gigantesca. O professor precisa ter a habilidade de fazer com que as pessoas entendam a importância das ferramentas, disciplinas e materiais para que os apliquem. A informação está aí. O que precisa é o sentido, entender a necessidade de aprofundar-se nos temas”, avalia Honorato.

Mas, afinal, quem são e de onde vêm esses docentes? “Nós mesmos os formamos”, arrisca Bulgarelli. Para ele, a necessidade das escolas atraiu profissionais como consultores empresariais que “não falavam a linguagem acadêmica”, mas, na troca com veteranos da academia, acabaram por desenvolver uma expertise muito particular.

“Creio que o melhor caminho seja identificar bons profissionais do mercado e engajá-los nessa missão acadêmica. Para isso, é preciso olhar a questão com carinho, e quebrar resistência de ambas as partes, porque, se por um lado as escolas ainda formam gente para manter o status quo – mesmo naquelas de formação de lideranças -, por outro os profissionais do mercado também precisam se inteirar da dinâmica do mundo acadêmico. Esse é um trabalho a que teremos de nos dedicar”, pondera.

Além do garimpo “no mercado”, a busca pelo docente ideal tem sido feita também, e em boa medida, no terceiro setor – cujos profissionais começam a rarear, segundo especialistas no tema.  “Às vezes, trazer um empreendedor social para conversar com os alunos é mais eficaz do que treinar um cátegra, um professor mais acadêmico. O corpo docente desse tipo de curso deve combinar pessoas da lida diárias com acadêmicos. E profissionais de todos os setores. O que caracteriza essa nossa área de atuação é justamente a multiplicidade, a diversidade, que deve estar refletida também no corpo docente”, pontua Cristina Fedato, da FIA.

Novos formatos

“Não existe educar para a sustentabilidade, só educar na sustentabilidade.”

A frase – ouvida da boca de José Pacheco, idealizador da Escola da Ponte, em Portugal -, fez “cair a ficha” para Eduardo Shimahara, diretor de Sustentabilidade e Inovação do Grupo Ânima Educação e Cultura.

Por meio de intensas pesquisas e algumas viagens, Shimahara conheceu centenas de experiências formais e informais ao redor do mundo – que envolveram desde as Universidades de Oregon e Stanford, nos Estados Unidos, ao mestrado ministrado dentro de uma ecovila perto da Cidade do Cabo, na África do Sul – para elaborar um curso que atendesse ao sentido da reflexão que lhe proporcionara o educador português. Assim nasceu a Especialização em Desenvolvimento Sustentável que o Ânima irá realizar em parceria com o HUB São Paulo assim que conseguir fechar a turma de 40 alunos.

“O que vemos hoje no mercado é que o aluno que se interessa por esse tema acaba sendo obrigado a fazer uma pós-graduação, especialização, curso de extensão ou estudar por conta própria, porque não teve essa visão na universidade. E isso causa um choque, já que sustentabilidade pressupõe pensar de forma sistêmica, completamente diferente do raciocínio linear de nossas escolas.” O resultado, diz ele, é que, quando o aluno se vê confrontado a subverter tudo o que aprendeu, “ele se assusta, o que gera até uma descrença!”.

O curso idealizado por Shimahara e sua equipe propõe um formato modular totalmente transdisciplinar, no qual o ingrediente mais “picante”, na linha de pensamento de José Pacheco, é oferecer liberdade de escolha ao aluno para aprofundar-se naquilo que mais lhe interessa, tendo o professor como um mentor para orientá-lo no caminho escolhido.

Outro diferencial é que cada módulo dispõe de um fundo de três mil reais para ser administrado em conjunto pelos alunos – para a contratação de especialistas e palestrantes ou aplicação em projetos práticos, por exemplo – de modo a “trabalhar o compartilhamento de valores e incorporar a riqueza da diversidade”.

Segundo Shimahara, o objetivo do curso não é competir com as escolas de negócios já consagradas na formação de lideranças corporativas, mas atrair, sobretudo, os egressos das universidades e preparar os novos líderes do amanhã. “Costumo dizer que a vanguarda é um lugar muito solitário. Mas, quando você dá um passo e arrisca, há grandes chances de ver seu trabalho reconhecido no futuro”, filosofa.

“Reconhecer a complexidade que o assunto exige e a dificuldade em se obter respostas ‘pretas ou brancas’ é o grande desafio para a educação da nova geração de líderes”, acredita Shimahara. “Assim como na Física Quântica, sustentabilidade é a ciência do ‘talvez’, ora partícula, ora onda. Não existe resposta pronta em sustentabilidade. Cada caso é um caso”, finaliza.

Alta liderança

Se a nova geração de líderes parece já começar a contar com um cardápio bastante mais variado para a sua formação, o que dizer daqueles que sempre lideraram na velha economia e se descobrem na tarefa de “esverdear” sua visão de mundo para enfrentar os desafios da nova economia?

“Há poucas iniciativas no Brasil conversando com a alta liderança”, argumenta Reinaldo Bulgarelli. “Nesse sentido, acredito que a Plataforma Liderança Sustentável (veja reportagem na pág.38) desempenha um papel complementar bastante importante na aproximação da alta liderança focada em valores para inspirar a nova geração”, elogia.

Cada vez mais, no entanto, as escolas de negócios voltadas às altas lideranças, sobretudo presidentes e diretores, procuram se adequar às exigências dos novos tempos.

Carlos Honorato, coordenador acadêmico do MBA Executivo Internacional da FIA, o primeiro curso desse tipo no Brasil, lançado há exatos 20 anos, acredita que as escolas de negócios começam a enxergar a liderança como um elemento fundamentalmente estratégico. E isso irá se consolidar não só pela necessidade dos próprios líderes mas, sobretudo, por demanda da sociedade.

“Vivemos um período turbulento na história da humanidade e, ao mesmo tempo, temos uma carência de líderes autênticos. A grande novidade é que agora estamos num mundo ultraconectado e formar lideranças num sentido mais produtivo, estratégico e sustentável é algo que certamente começa a acontecer, não tanto por demanda das empresas, mas ainda mais das pessoas. As empresas apenas reagem às demandas da sociedade. O consumidor está cada vez mais informado, consciente e isso só vai aumentar na medida em que as pessoas tenham mais educação e mais renda. Essa evolução vai demandar um grande esforço das empresas-líderes de desempenhar um papel mais sustentável e legítimo com a sociedade. Não vai poder mais existir o discurso descolado da prática”, sentencia Honorato.

Para atender as necessidades dessas novas lideranças, o coordenador da FIA acredita que o grande desafio das escolas de negócios é lidar com os chamados soft skills – habilidades emocionais, de comportamento, de vida em sociedade e gestão de grupos. “Além da preocupação em oferecer informações e subsídios como testes de carreira, nos atentamos cada vez mais ao desenvolvimento pessoal e à criação de grupos voltados a cenários estratégicos do futuro para trabalhar atitudes referentes a esses novos paradigmas.”

Nesse sentido, Estratégia Empresarial, Governança e Sustentabilidade e Agenda para o Futuro – na qual o aluno é desafiado a planejar uma agenda pessoal e setorial para os novos tempos – são disciplinas que começam a representar os pilares da formação das lideranças.

Contabilidade Socioambiental, Desempenho Socioambiental e Financeiro, Ética Organizacional e Inovação são nomes de disciplinas cada vez mais comuns nos cursos voltados à alta liderança. Caso do recém-lançado High Potencial Leadears, cuja primeira turma deverá iniciar-se no segundo semestre deste ano, na Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas da Fundação Getúlio Vargas (EBAPE-FGV) no Rio de Janeiro.

O professor Hélio Arthur Irigaray, coordenador do curso, explica que a iniciativa surgiu a partir da identificação de um gap na carteira de produtos da escola. “Tínhamos programas voltados aos jovens profissionais, entrando no mercado, fazendo carreira; programas prontos para os CEOs, já com uma posição consolidada; mas faltava na nossa grade algo que preparasse os futuros líderes para o processo sucessório: profissionais com alta capacidade, engajados, e, sobretudo, com uma visão muito mais holística do que financista”, conta Irigaray.

Para dar conta dessa missão, o High Potencial Leaders apoia-se em três pilares: globalização, inovação e liderança. Além da construção “a partir da demanda dos alunos” e do acompanhamento de um coaching durante toda a extensão do curso, os desafios das corporações multiculturais e suas novas configurações organizacionais – que incluem relacionar-se com uma imensa diversidade da força de trabalho, “como a meninada que chega às empresas com outra noção de tempo e hierarquia” -, questões como saúde e segurança do trabalhador e relacionamento com stakeholders, “muitas vezes negligenciadas nos demais cursos”, integram uma pauta em que o aluno deve entender ainda de Sociologia, Antropologia e Psicologia.

Ao contrário de Honorato, no entanto, Irigaray acredita que a demanda por essa nova formação tem vindo, sim – e fortemente – das empresas, que esperam poder contar com uma visão cada vez mais transversal e sistêmica de suas lideranças. “Sustentabilidade entrou na pauta de maneira irreversível”, sentencia.

No livro Liderança Sustentável – Desenvolvendo Gestores da Aprendizagem, os estudiosos da educação Andy Hargreaves e Dean Fink afirmam, logo no primeiro parágrafo, que “mudança em educação é fácil de se propor, difícil de se implementar e extraordinariamente mais difícil de se sustentar”. Tomara que eles estejam errados!

Inscreva-se em nossa newsletter e
receba tudo em primeira mão

Conteúdos relacionados

Entre em contato
1
Posso ajudar?